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Rumo ao pólo

Para quem não viu a reportagem de autoria de Jamil Chade publicada no último sábado, recomendo com entusiasmo (está aqui). Muito resumidamente: com o aquecimento global, pouco a pouco, populações inteiras de peixes vão se movendo na direção do pólo norte. Até 2050, talvez 60% dos cardumes tenham se deslocado em busca de águas mais frias. Isso significa menos peixe para pescar em vários cantos do mundo. O que inclui, claro, o nosso litoral. A matéria cita, em especial, o atume o bacalhau - este, com um horizonte de sérias ameças nas próximas décadas. É curioso notar, por outro lado, que, há exatos quatro anos, os portugueses noticiavam com alegria a retomada do crescimento nas populações de gadus morhua, devido principalmente ao cumprimento de cotas de pesca (à época, escrevi sobre o tema e publiquei este link). Que, ano após ano, fica mais difícil levar à mesa um bom pescado, isso já sentimos faz tempo. Mas parece que o problema vai tomando forma cada vez mais concreta. Como se reverte, se é que se reverte? Cumprindo as referidas cotas, buscando medidas pactuadas que atenuem os impactos do aquecimento global, aprimorando a piscicultura, aumentando o nível de informação e consciência de pescadores, indústrias, cozinheiros, consumidores... Mas, mesmo assim, não é fácil. Em momentos mais otimistas, acredito que práticas mais sustentáveis podem mudar a perspectiva de um futuro de preocupante escassez (os alvissareiros relatórios da WWF apresentados em 2010 pareciam oferecer um caminho). Em instantes mais pessimistas, lembro do que costuma dizer um amigo meu, grande cozinheiro amador, pescador de mão cheia, especialista em meio ambiente: "Sejamos responsáveis, é claro. Mas não tenhamos ilusões: peixe bom, quem comeu, comeu. Aproveitemos enquanto dá, pois talvez nossos bisnetos não tenham a nossa sorte". Exagero? Sinceramente, espero que sim.  

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