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Aberta a temporada de caça às içás e receita de farofa

João Carlos de Faria

ESPECIAL PARA O ESTADO

No meio da primavera, entre outubro e fim de novembro, quando surgem os primeiros sinais de chuva, moradores da pequena Silveiras, no Vale do Paraíba, a 207 quilômetros de São Paulo, ficam de olho no céu e de ouvidos atentos para os trovões. Segundo o sociólogo, produtor rural e empresário Ocílio José Ferraz, da Fazenda do Tropeiro, "é nesta época que Tupã fica enfurecido e, quando se iniciam as trovoadas, as ?panelas? de formigas estremecem e começam a estourar". É sinal de que chegou a temporada da caça às içás, as fêmeas da formiga saúva, também conhecidas como bitu ou içá-bitu. A cidade e o campo viram festa e os morros ficam cheios de crianças, homens e mulheres, numa alegre algazarra, com baldes e latas em busca da "formiga voadora". Foi Ferraz quem resgatou a tradição valeparaibana de consumir a farofa de içá. Além de divertida, a caça tornou-se marca da cidade, atraindo turistas. Os "caçadores" vendem o litro de içá por até R$ 20. Quase tudo é comprado por Ferraz, que quase não dá conta de atender os pedidos no seu restaurante tropeiro. Nesta época do ano, as içás deixam o sauveiro para que possam, num voo mortal para o macho, acasalar-se e dar origem a uma nova colônia. Alguns moradores estocam, limpam as içás e as congelam para comer o ano todo. Ferraz afirma que, além de agradar ao paladar, a içá tem outras qualidades. "É antibiótico natural e afrodisíaco." Nos fins de semana, o restaurante que funciona na fazenda, especializado em culinária tropeira, recebe gente de todos os lugares para "comer formiga". "E não é só turista de longe. Vem muita gente de cidades vizinhas, onde também tem içá." Um grupo de crianças da região, orientado por Ferraz, leva os turistas a uma visita aos formigueiros, onde contam detalhes de como tudo acontece, como é a vida no campo e as tradições e a história de Silveiras. Mas é preciso cuidado: uma mordida da saúva, com ferrões que lembram uma tesoura, pode render um bom estrago nas mãos dos menos espertos. Para comer a içá, explica, a melhor maneira é fazer uma farofa. Mas há quem as coma cruas, na hora da caça. A farofa é feita com banha de porco, em fogão à lenha. O gosto de formiga torrada, aliada ao tempero com alho, é peculiar e indescritível. Não se parece com nada. Enquanto prepara as içás, Ocílio Ferraz, que é membro da Academia Brasileira de Gastronomia, escritor e cozinheiro, revela tudo sobre o inseto e seu consumo, hábito herdado dos povos indígenas. A fama da caça à içá já ultrapassou fronteiras. Foi notícia em jornais de grande circulação, entre eles o New York Times, que enviou repórteres à cidade para conhecer a iguaria e denunciar que o plantio incontrolado do eucalipto e o uso de agrotóxicos podem acabar com a tradição, destruindo os formigueiros. "Não tenho dúvida de que a valorização da içá é um forte contraponto a essa realidade retratada na reportagem", diz Ferraz. Receita Farofa de içá (de Ocílio Ferraz) - Ingredientes: 1 litro de içás limpas (ou seja, só o abdômen, sem o ferrão, asas e pernas); 200 gramas de banha de porco, sal com alho e farinha de mandioca crua. - Como fazer: Colocam-se as içás numa panela, em fogo baixo, até que comecem a torrar. Quando começar a sair um cheiro característico, acrescenta-se a banha de porco. Quando chegar no ponto ideal de fritura, retira-se a mistura do fogo, acrescentam-se sal com alho e farinha de mandioca crua. A farofa está pronta para ser consumida. (

Texto publicado no Agrícola de 2/11/2011

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