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As combinações de pratos com vinhos sem complicações - O que interessa é o prazer e não seguir regras

Os pratos e os vinhos nasceram uns para os outros, mas nem sempre se dão bem. Alguns pratos e ingredientes manifestam claramente suas preferências e acabam valorizando alguns vinhos, suportam outros e não se dão com alguns deles. A última hipótese - a da combinação ser desastrosa e acabar com o jantar - é mais rara e mais fácil de evitar, pois são desastres evidentes (suco de limão com vinho, chocolate com tinto seco e assim por diante). Mas tudo é relativo. Uma boa combinação, certamente, pode melhorar um jantar, mas não devemos levar isso a sério demais, deixar que as elocubrações sobre o que outros podem pensar e, principalmente, as preocupações na hora da escolha dos vinhos e dos pratos acabem ofuscando o jantar. A idéia básica SEMPRE é ter prazer e não preocupações. Alguns enochatos vão me censurar, mas quase sempre pode se tirar algum prazer, mesmo quando a combinação não é ideal. Esta afirmação do grande colega Harvey Steiman num artigo de 1991 na revista Wine Spectator, me impressionou profundamente, é mesmo preciosa e corajosa: mesmo num jantar, boa parte do vinho é provada sem a comida. Muito dificilmente, uma pessoa come um bocado e, logo em seguida, toma um gole de vinho. Na verdade, comemos um pouco, conversamos, pensamos e depois tomamos um ou dois goles de vinho. Ao final, uma proporção considerável de vinho (levando também em conta a prova inicial, antes da chegada do jantar) é provada sem a comida. Uma vez que mais vinho é consumido sozinho, aconselha mais do que sabiamente esse jornalista norte-americano: nunca deixe de provar um grande vinho só porque ele pode não se dar bem com o prato. Um vinho vulgar (que poderia ter suas afinidades com o prato) pode arruinar um jantar. Já uma combinação não muito adequada dificilmente estragaria a noite. Um bom vinho acaba compensando os eventuais problemas. Ademais, sempre se pode tentar driblar uma combinação meio cambaia entremeando um pouco de água ou pedaços de pão nos intervalos entre os goles e os bocados do prato. Esse conselho de Harvey Steiman coincide com o último item de um decálogo que escrevi há muito tempo sobre o assunto: aproveite o jantar, seja qual for a escolha do vinho. Se ela não tiver sido a mais adequada, aceite o fato, aprenda e não fique chateado. Todos, até os mais conhecidos especialistas se enganam. Imagine começar um jantar com um Champagne Krug Clos du Mesnil ao aperitivo, comer um pernil d´agneau pré salé de Pauillac assado acompanhado por um Château Latour de 1961, também de Pauillac e terminar com uma pera au Sauternes com um Château d´ Yquem 1934. Seria a glória. Eu já provei esses vinhos, mas não nessa ordem e nem em tais companhias. E posso assegurar que voltaria a prová-los com o mesmo entusiasmo e prazer, independente do que eles estiverem acompanhando. Os vinhos compensariam tudo. Parafraseando a atriz e grande frasista, muitas vezes quase filósofa, Mae West: sexo com amor é o ideal, uma maravilha (vinho ótimo e combinação adequada); mas sexo sem tanto amor (vinho ótimo e combinação não muito correta) também tem o seu valor.

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