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Bebida

A vez das destilarias artesanais

Por Rafael TononEspecial para o Estado 

A vez das destilarias artesanaisFoto:

Enquanto a onda das cervejas feitas em casa ganha os panelões de entusiastas do lúpulo aqui no Brasil, os Estados Unidos já olham para o que deve ser o próximo gole no que se refere a bebidas alcoólicas: a dos destilados caseiros, feitos em escala doméstica ou em pequenas destilarias. Os americanos, adeptos do “faça você mesmo”, estão recriando o mercado com uísques, bourbons, gins e brandies de pequena (mas nem por isso tímida) produção.

A estimativa é que existam de 400 a 500 destilarias artesanais de uísque operando no país. A bebida tem puxado esse movimento dos destilados artesanais, principalmente os feitos de centeio, conhecidos como rye whisky. “As pessoas têm produzido cervejas há décadas nos EUA, enquanto a destilação, apesar de ser uma prática antiga como profissão, é uma grande novidade como hobby”, afirma Colin Spoelman, um dos donos da Kings County Distillery, a primeira destilaria de Nova York a ser fundada após a Lei Seca americana.

Orgânico. O uísque Catoctin Creek, de centeio, resgata, segundo seu criador, uma tradição dos destilados feitos de grãos no país no século 19. FOTO: Firefly Imageworks/Divulgação

O surgimento de pequenos produtores dos EUA é um resgate de uma prática que se estabeleceu em território americano durante a Lei Seca ( 1920–1933), quando era proibido produzir, vender e transportar bebidas alcoólicas em todo o país. Pequenos produtores agiam fora da lei para fabricar spirits – prática que ficou nacionalmente conhecida como moonshining ( em tradução livre, algo como “sob a luz da lua”, indicando o caráter contraventor da atividade).

O país vive hoje a “renascença dos produtores de pequenas destilarias”, segundo Dan Farber, proprietário da Osocalis Distillery, em Santa Cruz, Califórnia, que esteve no Brasil em janeiro. Há uns seis ou sete anos, o país começou a registrar a abertura de suas primeiras destilarias legais desde a Lei Seca. “O movimento do alimento local, que já teve sua representatividade com a gastronomia e com os vinhos, chegou às bebidas destiladas. As pessoas estão interessadas nos drinques que bebem”, diz ele, que produz três tipos de brandy (feitos com uvas produzidas na Califórnia, como Colombard, Pinot Noir e Semillon, além de um brandy de maçã).

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Com Farber, outros quatro produtores estiveram em São Paulo e Rio para apresentar seus produtos ainda não exportados para o mercado brasileiro. Christian Krogstad, da House Spirits Distillery, no Oregon, conta que começou produzindo cervejas há 24 anos, mas desde 2006 resolveu empreender com uma destilaria para fazer gim, vodca, uísque de malte e aquavit. “O segmento de destilados artesanais está experimentando um crescimento de três dígitos e ultrapassando as cervejas artesanais e os vinhos em interesse”, diz ele, que dobrou o faturamento nos últimos dois anos e hoje produz 25 mil litros do Aviation American Gin.

Segundo Krogstad, o mercado teve um salto principalmente por causa da coquetelaria. “Os restaurantes perceberam que fazer bons coquetéis é fundamental e que os clientes já não aceitam bebidas que não tenham qualidade ou um grande diferencial em seus copos”, afirma. “Isso também tem influenciado os consumidores caseiros, que querem ter o prazer de preparar em casa drinques mais sofisticados.”

 Filhotes. Coquetéis de destilados da Catoctin Creek Distillery; ‘equipe enxuta’ produziu 13 mil garrafas em 2013. FOTO: Jay Cliburn/Divulgação

O produtor Scott Harris, da Catoctin Creed, abriu em 2009 uma destilaria com a mulher, Becky (que trabalha como mestre destiladora) e mais dois funcionários em Purcellville, na Virgínia, e produz uísque de centeio, gim e três tipos de brandy (dois com pêssego e um de uva). “Apesar da equipe enxuta, produzimos cerca de 13 mil garrafas no ano passado: quase 10% no aumento de produção”, diz ele, que produz um dos únicos uísques orgânicos do país, o Catoctin Creek Organic Roundstone Rye. “Trata-se de um resgate de uma tradição dos destilados feitos de grãos no país no século 19. Os grãos orgânicos carregam mais sabor.”

O centeio talvez seja a representação maior do american spirit, com o perdão do trocadilho, que substituiu o rum, o primeiro destilado produzido em solo americano, durante a Guerra da Independência (1775–1783). “Esse é o grão que remete ao espírito livre que gostamos de apregoar”, diz Farber, com boa dose de nacionalismo.

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>> Veja a íntegra da edição do Paladar de 17/4/2014

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