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Bebida

Abaixo os mitos da Borgonha

O especialista franco-brasileiro Jean Claude Cara lança livro para acabar com a ideia de que a região só faz vinhos caríssimos e leves

Imagem do livro Vinhos da Borgonha. Foto: JEAN CLAUDE CARA|DIVULGAÇÃOFoto: JEAN CLAUDE CARA|DIVULGAÇÃO

O franco-brasileiro Jean Claude Cara acaba de lançar o livro Vinhos da Borgonha – História, Tradição e Cultura com o objetivo de divulgar e – principalmente – desmistificar a região. Então, vamos lá, o que é que está errado sempre que pensamos sobre a Borgonha? Para Cara, o primeiro mito que deve cair é o de que todo vinho da região é caríssimo. Ele lembra que os grand crus representam apenas 1,3% de toda a Borgonha. “O problema é que a fama faz com que as importadoras usem uma margem de até 200% por conta do rótulo. Mas hoje você faz descobertas de até R$ 150”, afirma ele. 

Cara é pouco convencional ao descrever o produto local. Para ele, é o vinho “autêntico”, feito com “verdade”, e não para agradar o paladar do consumidor. Ele deve ser visto como um “alimento”, e não como um produto de “prazer ou status”. Deve ser feito sem aditivos, de forma natural e não tecnológica, o que, para ele, pode assustar o consumidor. E, por fim, para Cara, a Pinot Noir, cepa que reina soberana na região, não é nada “fraca” ou “delicada”, como pode ser dito por aí.

Imagem do livro Vinhos da Borgonha Foto: JEAN CLAUDE CARA|DIVULGAÇÃO

“A pessoa só tem prazer ao degustar o vinho da Borgonha após muitos anos. No início, ela não compreende, vai julgar como leve, ácido, vai dizer que falta açúcar, que não tem corpo. Mas isso é tudo o que precisamos. É um vinho que não vai sobressair a nossa comida, mas que vai se equilibrar”, diz o autor, para quem aromas da madeira – café, chocolate, baunilha – são defeito. “Fica impossível de harmonizar.”

Cara é um homem afeito à tradição. Conta que seu restaurante francês em Ourinhos não deu certo em parte por isso. Não admitia que as crianças que frequentavam o Elephant Rouge pedissem arroz e peito de frango em vez de acompanhar os pais no boeuf bourguignon. “Vivia muito triste por não conseguir realizar o que propunha.” 

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Hoje, tudo está diferente. Deixou a tristeza de lado quando mudou-se para a Borgonha, onde vive enfiado na tradição vinícola há cinco anos. Virou uma espécie de embaixador da região para os brasileiros interessados em turismo ou negócios e um dos principais educadores sobre o mundo do vinho borgonhês em atividade no Brasil. 

Garrafas envelhecendo na Borgonha, imagem do mesmo livro Foto: JEAN CLAUDE CARA|DIVULGAÇÃO

“Notei que não havia um bom livro sobre a região escrito no Brasil”, diz. Em dois anos, organizou com a ex-mulher Ligia Maria Salomão um raio-x da Borgonha. O livro conta sua história e esmiúça conceitos, mapeia vinhedos, dá dicas de turismo e discorre sobre temas tão abrangentes quanto a relação entre homem e terra, vinificação e até serviço.

A pesquisa foi fácil, diz Cara, já que conhece “todo mundo” na Borgonha. Lá, ele comanda sua consultoria, a Relações Brasil Borgogne, sua loja de vinhos raros, a Cavisteria, e produz uma série que espera vender para a TV brasileira. Até na hora de dormir está envolvido com a enocultura: hoje, sua cama fica no Château de Villars-Fontaine, na Côte de Nuits, de seu mentor Bernard Hudelot.

Brancos estelares

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Na última semana, os sites especializados foram inundados por impressões sobre a safra 2014 da Borgonha, quando ela foi apresentada para a crítica internacional em Londres. Os brancos foram avaliados como excepcionais, as verdadeiras estrelas do ano, seguindo uma linha fresca e mineral, com destaque para Mâcon e Chablis. O clima não foi o mais amistoso, com tempestades de granizo que destruíram parte da plantação e um verão relativamente frio. Ainda assim, segundo a crítica, alcançou-se uma produção clássica, inclusive para tintos. A má notícia é o preço nas alturas, inflacionado pela demanda.

Dois Borgonhas a menos de R$ 110

  Foto: DIVULGAÇÃO

BOURGOGNE ROUGE 2011 Origem: Domaine du Temps Perdu, Borgonha Preço: R$ 108 na De La Croix Esse Pinot Noir é imbatível, melhor custo-benefício do Brasil, diz o sommelier do Tête-à-Tête, Marcos Martins. Com boa tipicidade, traz frutas vermelhas maduras.

  Foto: DIVULGAÇÃO

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SAINT-BRIS 2014 Origem: Domaine du Temps Perdu, Borgonha Preço: R$ 97 na De la Croix Da mesma produtora, o sommelier Diego Arrebola indica um dos únicos Sauvignon Blanc da região. Cítrico, tem boa mineralidade e ótimo corpo.

Capa do livro Vinhos da Borgonha Foto: Reprodução

Vinhos da BorgonhaAutor: Jean Claude Cara e Ligia Maria Salomão CaraEditora: Melhoramentos (192 págs., R$ 149)

>> Veja a íntegra da edição de 21/1/2016

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