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Bebida

Acabou a burrice? É hora de abrir um Vallontano

A vertical do Cabernet Sauvignon da Vallontano, com todas as safras já produzidas, foi um dos melhores painéis no Paladar – Cozinha do Brasil 2012. Como tinha em casa – sortudo! – garrafas fechadas de todos os vinhos provados no evento, repeti a degustação para a coluna, aproveitando o fim da ameaça de adoção pelo governo de salvaguardas para o vinho brasileiro.

Acabou a burrice? É hora de abrir um VallontanoFoto:

Refiz a prova das safras 2000, 2002, 2004, 20005 e 2007 dos Cabernets da Vallontano para demonstrar que são eles a verdadeira salvaguarda contra alguns importados de qualidade duvidosa. Quem tem o que mostrar não teme concorrência. Os disponíveis no mercado custam em torno de R$ 50 (R$ 53 o Reserva 2005 e R$ 45 o 2007, na Mistral, tel. 3732-3400), são excelentes, têm uma boa evolução na garrafa e são produzidos em uma pequena empresa garagiste, como chamariam os franceses: um galpão em Bento Gonçalves, impecável, com todo o cuidado com a matéria-prima, minúsculo.

Luís Henrique Zanini, proprietário e enólogo, foi também um lutador feroz contra a adoção de impostos adicionais para os vinhos, e a queda da medida, em parte, é mérito de sua resistência. Então escolhi seus vinhos brilhantes para celebrarmos o fim dessa burrice de impedir a pluralidade dos vinhos do mundo no Brasil.

Na visita que fiz a ele, em fevereiro, aprendi bastante sobre a região, e guardo bem a frase “é um erro tentarmos mascarar a acidez natural que temos”. Ouvindo isso, apareceu aquela lâmpada de cartoon sobre minha cabeça: claro! A graça e o estilo, ou se preferirem dizer, o terroir, da chuvosa e complicada serra, são permitir vinhos que Mendoza não consegue fazer, só para citar o vizinho invejado.

Gosto de vinho, acredito que vocês também, ou não estariam lendo esta coluna. Não entendo nada de economia, nem mesmo da mais simples aritmética doméstica; tenho dificuldade até para fazer uma conta no supermercado. Mas tenho uma visão muito clara do problema do vinho no Brasil: está caro.

O fim do processo movido por diversas entidades produtoras de uvas e vinhos para a criação de barreiras à importação é um alívio. Considerei o ano corrente o pior de todos no aspecto de consumidor. Foi uma guerra tonta, de parte dos produtores nacionais contra os importados, com ofensas, acusações e uma autêntica luta livre na disputa pelo mercado. Compreensível pelo tamanho do potencial do País, mas inaceitável pela baixa qualidade dos argumentos e pelos termos grosseiros usados. Passou. O acordo, anunciado na segunda-feira ( e antecipado pelo blog do Paladar no sábado), envolvendo todas as entidades produtoras e as de classe que representam importadores, supermercados e distribuidores, entendeu que a grande meta é ampliar o consumo de vinho pelo brasileiro.

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Lembro-me de Daniel Pisano, o vinhateiro uruguaio, num almoço em sua vinícola familiar, dizendo: “Se os brasileiros bebessem uma garrafa de vinho extra por ano, isso já representaria toda a produção do Uruguai”. Agora o desafio é fazer com que essa garrafa seja consumida. E a questão maior é o preço.

FOTO: Nilton Fukuda/Estadão

Piano, piano…

O 2000, como esperado, tinha cor evoluída, com aromas terciários, notas de couro e folhas secas. Surpreendeu pela vivaz acidez. No fim da vida, perfeitamente bebível, um belo acontecimento.

O 2002, por fatores climáticos, tinha taninos mais duros. Bebível, sem ser tão agradável.

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O 2004 estava vivíssimo, complexo no nariz, com boa boca, mais potente e longo.

O 2005 foi meu favorito. Aromas de couro, torrados, algo de violetas e leve toque almiscarado. Na boca, uma demonstração prática de como a acidez natural da região pode ser aproveitada.

O 2007 não é um reserva, mas impressiona como é delicioso. Empatou com o 2005 como favorito e só preferi o 05 por estar com mais equilíbrio. Mas deem mais dois anos ao 07 e voltamos a conversar. Minha sugestão é comprar duas garrafas de cada, 2005 e 2007, para comparar agora e no ano que vem.

Veja todos os textos publicados na edição de 25/10/12 do Paladar

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