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Argentinos com ares bordeleses

Por Florence FabricantThe New York Times

Argentinos com ares bordelesesFoto:

Na Argentina, onde reina a uva Malbec, os produtores de vinho estão querendo dar uma guinada no tradicional corte bordelês, o corte de Bordeaux, combinação clássica de Cabernet Sauvignon, Cabernet Franc e Merlot. Querem, é claro, colocar a Malbec no meio, combinando-a com Cabernet Sauvignon.

A escolha pela uva Malbec é óbvia: ela domina os vinhedos de Mendoza, a maior região vinícola da Argentina. E a opção pela Cabernet Sauvignon é por status: se a ideia é fazer um corte com Malbec topo de linha – cultivado e vinificado com todo cuidado – que essa mistura seja feita com a mais afamada das uvas.

“A Cabernet Sauvignon sempre foi considerada mais classuda do que a Malbec”, diz Alejandro Vigil, enólogo chefe da Bodega Catena Zapata, uma das mais conceituadas vinícolas do país. “Ela é mais nobre, tem mais prestígio e é mais cara.” Ele conta que o fundador da bodega, Nicolás Catena, sonhava em produzir um vinho de qualidade internacional já no começo dos anos 1980. Para muitos produtores como ele, a Cabernet Sauvignon é simplesmente o Santo Graal das uvas.

Nos Andes. A Cheval dos Andes (foto) e a Catena Zapata vêm se destacando por rótulos argentinos com estilo de Bordeaux. FOTOS: NYT

Para fazer esse vinho inspirado no corte francês usando a uva-símbolo argentina, as bodegas do país sul-americano estão fazendo parcerias com vinícolas da tradicional região francesa. Um desses rótulos é o Caro, fruto da união da Catena Zapata com Baron Eric de Rothschild, do Château Lafite Rothschild. O corte Malbec-Cabernet é um exemplo de vinho argentino com estilo Bordeaux. Outro exemplo é o Cheval des Andes, resultado da união do Terrazas de los Andes, mais um grande nome argentino, com o Château Cheval Blanc, um premier grand cru de Saint-Émilion.

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Os cortes argentinos-bordeleses têm os taninos, as frutas negras e a estrutura típicos dos cabernet sauvignons finos, mais a intensidade, a textura aveludada e a confiabilidade dos malbecs. Cheval des Andes e Caro são equilibrados e delicados. Nesses vinhos, a Malbec desempenha o papel enriquecedor e frutado que a Merlot faz em muitos Bordeaux. Nos exemplos argentinos, há também uma nota de terrosidade, característica do terroir.

Some a essa combinação o nome de um superprodutor de Bordeaux e a ideia de que vinho argentino é barato e pronto: o rótulo está pronto para ser vendido globalmente.

Retomada. Nicholas Audebert, enólogo da Cheval de los Andes, diz que a ideia é se religar com a Malbec

“Cheval Blanc é um nome forte por si só”, diz Hervé Birnie-Scott, diretor técnico do Terrazas de los Andes. O mesmo vale para Rothschild. “Ao comprar um vinho argentino, as pessoas querem ter segurança”, diz. A maioria dos consumidores associa a Argentina a rótulos mais baratos. É como diz Michael Evans, proprietário da Vines of Mendoza: “É possível fazer vinhos melhores mais baratos na Argentina do que em qualquer outro lugar do mundo.”

Embora os vinhos que resultam da colaboração entre dois dos melhores châteaux de Bordeaux e duas das mais conceituadas vinícolas argentinas não sejam exatamente baratos, eles são acessíveis, principalmente se comparados a outros rótulos produzidos pelo mesmo sistema, como o Opus One, da Califórnia, sociedade do Château Mouton-Rothschild e Robert Mondavi, que pode custar US$ 250 a garrafa. O Cheval de los Andes é vendido a uma média de US$ 90 nos EUA. E o Caro pode ser comprado por US$ 60.

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Rumo ao passado. A uva Malbec não é associada a Bordeaux, embora seu cultivo já tenha sido significativo na região. A propensão a doenças e a sensibilidade à umidade dificultou seu cultivo, que foi praticamente abandonado em Bordeaux há cem anos – embora ainda seja a uva predominante na região de Cahors, no sudoeste francês.

Segundo Nicholas Audebert, da Cheval des Andes, uma das razões para este abandono pode ser o fato de a Malbec não reagir bem a enxertos. A técnica foi a única maneira encontrada pelos produtores europeus para replantar seus vinhedos depois da infestação da praga phylloxera no final dos anos 1800. “Nós queremos nos reconectar com a Malbec na forma de um corte típico de Bordeaux e usá-la da mesma maneira como era feito no passado.”

>> Veja a íntegra da edição do Paladar de 9/1/2014

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