Em 17/2/2011, o Paladar fez uma capa sobre o assunto, que até hoje repercute. Encontro gente que ainda se guia por ela para fazer compras de vinhos, e cita a matéria. Era sobre comprar vinho para o dia a dia, com a carne, as frutas e uma barra de chocolate, pagar no caixa e ir para casa, beber sem muita firula. Lembro como foi divertido, instrutivo e surpreendente rodar vários lugares e escanear prateleiras em busca de vinhos bebíveis sem susto. Não eram tão poucos quanto eu julgara, também cheio de predisposições negativas. Saiu uma listinha de clássicos naquela edição. Alguns continuam seguros para qualquer contingência, como o Periquita, os Concha y Toros mais simples, a linha Volpi da Salton. Um dos supermercados visitados foi o Saint Marché da Praça Panamericana, de onde destaquei um bom espanhol, o Pinuaga.
De lá para hoje, a rede Saint Marché, com o elétrico Bernardo Ouro Preto no comando, virou colecionadora de rótulos com importação exclusiva. Bernardo viaja para todas as feiras – Vinitaly, Prowein, Vinexpo… –, prova, escolhe e azucrina os produtores (a palavra é dele). Gruda no sujeito até conseguir o vinho por bom preço. Como compra em escala (contêineres) para distribuir na sua rede de16 lojas e Empório Santa Maria, geralmente vence. E aqui, quando os vinhos chegam, pratica o que motiva esta coluna: repassa o preço bom ao consumidor. Não parece estar perdendo dinheiro.
Venceu duas resistências de uma só vez: vende mais barato e tem qualidade, e faz isso em supermercados. Os inseguros que têm vergonha de chegar em um jantar levando uma garrafa comprada ali na esquina, mesmo que o vinho seja ótimo, não se acanham em apresentar um produto de supermercado nobre. Finalmente, pois ingleses, americanos, franceses, fazem isto sem constrangimento. Pense bem, a Grand Épicerie do Bon Marché, em Paris, com esse nome pomposo e de fazer biquinho, é sortida, incrível, meu lugar favorito para comprar comida, mas é um supermercado. Vinho é o que está na taça, não o pacote da loja que envolve a garrafa.
Fui provar os 80 rótulos que já compõem a lista de importação própria de Bernardo. Tem ótimo Chianti Classico, bons espanhóis, bons chilenos, e oito Borgonhas, de um básico a um Gevrey-Chambertin, todos abaixo de R$ 300. Decidi escrever sobre os Bordeaux. São 12 vinhos, 11 abaixo de R$ 200. Elegi tais 11 para degustar às cegas, com amigos que não sabiam do que se tratava. Ouvi suas opiniões e selecionei os cinco de que gostei mais, um deles, por casualidade, o La Salle de Château Poujeaux, que faz parte do grupo de jovens vinicultores que estão dando uma arejada na cara vetusta da região, o Bordeaux Oxygène.
Um detalhe sobre os vinhos do Saint Marché. Há Bordeaux mais classudo no meio, mais ligeiro, mais complexo. E um dos que mais agradaram ao grupo, como vinho para ter em casa e beber sem grandes rituais, o Le Bordeaux de Maucaillou, um básico, custa R$ 57. Eis uma boa lista para acompanhar assados festivos de final de ano.
Chantegrive Graves | MUITO BOM Toque verdoso no nariz, dá para sentir um pouco da madeira. Na boca, taninos delicados e boa acidez. Equilibrado e fino (R$ 119).
FOTOS: Divulgação
VIAGEM ENGARRAFADA
Parada 55/100 Bordeaux, FrançaCorte bordalês Boas garrafas, a bom preço, em supermercado em São Paulo
>> Veja todos os textos publicados na edição de 13/12/12 do ‘Paladar’