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Cerveja alemã em 5 passos

A fórmula básica da cerveja é malte de cevada, água e lúpulo

Faz exatos 499 anos que a lei de pureza alemã foi promulgada. A Reinheitsgebot – diga ráin-rráits-guebôt (o primeiro érre, como se fosse no meio da palavra, como em “cara”. ) – definiu a fórmula básica da cerveja: malte de cevada, água e lúpulo. A levedura, ainda desconhecida, ficou de fora na primeira versão e só entrou na fórmula quando a lei da pureza foi revisada. A lei foi criada pelo duque da Baviera, Guilherme IV, para garantir a qualidade da bebida e também para brecar a produção das cervejas de trigo – eram tão populares que não sobrava o grão para fazer pão.

Faz séculos que a lei não vigora mais, mas é evocada com frequência para criticar rótulos comerciais que levam cereais não-maltados. Antes de embarcar nessa, lembre-se que com Reiheigtsgebot, não teríamos weizen, witbier e berliner weisse, nem cerveja com centeio (adeus, rye IPA) ou aveia (tchau, oatmeal stout). Sem falar das fruitbiers, das farmhouse ales, das experimentações. Enfim. Deixemos a Reinheitsgebot em seu devido lugar, a história, e vamos conhecer algumas cervejas alemãs.

A Alemanha é uma das grandes escolas cervejeiras do mundo. Nesta prova, escolhemos – o sommelier Renê Aduan e eu – uma sequência que vai da cerveja mais acolhedora às mais esquisitas (todas muito boas). Junte-se a nós nesse schuhplattler (dança bávara) cervejeiro.

 Foto: Estadão

Esses são os passos do schuhplattler, diga xúu-plá-tlã, dança que se dança nas festas cervejeiras da Baviera (veja o vídeo abaixo). ILUSTRAÇÕES: Heloisa Lupinacci/Estadão

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AYINGER ALTBAIRISCH DUNKEL Origem: Aying, Baviera Preço: R$ 19 (500 ml) Uma linda porta de entrada para a escola alemã. Dunkel quer dizer escuro e define cervejas marrons, com gosto de biscoito e caramelo – para cervejas pretas com sabor tostado e café, peça uma schwarzbier. No nariz, ela é toda malte: notas de castanha, cookies, pão. Na boca, começa com elegante doçura, depois vem um leve amargor e tudo se equilibra. O fim do gole é um novo começo, mal dá tempo de encostar o copo na mesa. Acolhedora. Combina com joelho de porco.

 Foto: Estadão

WEIHENSTEPHANER HEFFE WEISSE Origem: Weihenstephan, Baviera Preço: R$ 19 (500 ml) Se nunca pediu essa cerveja por não saber dizer seu nome, vamos lá. É vái-ensh-tê-fâ-ne (sílaba tônica no fâ). Para falar de uma vez só, siga o conselho que um dançarino de schuhplattler me deu: comece devagar e aí vá acelerando. Weihenstephaner é a mais antiga cervejaria do mundo em funcionamento, desde 1040, é “o local mais sagrado do mundo da cerveja”, definiu Michael Jackson, o especialista em cervejas. Mas vamos a essa cerveja ícone. Heffe quer dizer que ela não foi filtrada. Weisse quer dizer que é uma cerveja de trigo alemã, a legítima cerveja proibida. É conhecida pelo cheiro de cravo e banana. A combinação afasta alguns bebedores – muitas weizen são enjoativas. Mas não esta aqui. Nela, o equilíbrio evita o cansaço. O cravo vem escoltado por anis, canela. A banana é discreta. A textura é cremosa e o fim do gole é refrescante. Combina com frituras da praia, como espetinho de camarão e frito misto.

 Foto: Estadão

SCHNEIDER WEISSE TAP 5 Origem: Kelheim, Baviera Preço: R$ 26 (500 ml) Se você já descobriu os prazeres do lúpulo, se cheira uma cerveja procurando cítricos e frutas tropicais, aqui está sua passagem para a Alemanha. Criada em 2008, a Tap 5 é uma resposta da Schneider Weisse à revolução cervejeira. É o mestre-cervejeiro alemão dizendo: legal, vocês estão curtindo lúpulo, tá aqui. O resultado é incrível. É muito aromática (laranja, pêssego, lima). Na boca, laranja e a lima são amparadas por um corpo generoso, um toque adocicado e quase nada de amargor. Uma IPA sem o coice. Combina com fromage blanc com geleia de kinkan (veja a receita).

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 Foto: Estadão

PAULANER SALVATOR Origem: Munique, Baviera Preço: R$ 15 (330 ml) Os criadores desta cerveja entraram no ramo em 1634. A Paulaner Salvator foi a primeira doppelbock, a fundadora deste estilo de cerveja forte. Ela é generosa. Tem cheiro de caramelo, ameixa, frutas secas, marzipã, marrom glacê. Na boca, é adocicada e levemente adstringente. Com 7,9% de teor alcoólico, é para beber em dias frios e climas contemplativos. Combina com espaguete à carbonara ou tartiflette (batata fatiada, cebola, bacon e creme de leite, cobertos com queijo reblochon derretido).

 Foto: Estadão

BRAUFACTUM RAUCHWEIZEN Origem: Frankfurt, Karlsruhe Preço: R$ 41 (500 ml) Rauch quer dizer defumado. Essa é uma weizen com malte defumado. Esse estilo de cerveja nasceu do processo da secagem do malte, que acabava fazendo uma leve defumação. O grão maltado é umidificado e aquecido para que brote; quando o broto nasce, o processo é interrompido, o broto é arrancado e o grão é seco. Essa Braufactum é delicada e tem defumado leve, amparado por notas de caramelo e uma leve acidez, é uma rauch que não pesa. Tem cara de começo de inverno. Combina com frango assado e farofa de bacon.

Um breve manual

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Lager Dos 25 estilos de cerveja alemã listados pelo guia de estilos da Brewers Association, 18 são da família das lagers, caracterizada pelo paladar limpo, com destaque para os aromas e sabores do malte e com pouca expressão do fermento.

Weizen É a cerveja símbolo da Alemanha. As principais notas aromáticas vêm da fermentação (fenóis e ésteres, com cravo e banana). É uma das sete cervejas de alta fermentação da escola alemã.

É weizen ou weiss? Tanto faz. Weizen (váizen) quer dizer de trigo, weiss (váiss) é branco, mas pode usar qualquer uma das duas palavras que vem a mesma cerveja – de trigo e clara.

Heffe Significa que a levedura ainda está na cerveja, que ela não foi filtrada. Agite o final antes de servir e espere uma cerveja levemente turva. Naturtrub e mit heffe querem dizer a mesma coisa.

Bock e doppelbock Bock indica uma cerveja forte, com mais de 6,5% de teor alcoólico. Uma weizenbock é uma bock de trigo. A doppelbock é uma bock ainda mais forte. As doppelbocks têm nomes que terminam em “ator”, como Paulaner Salvator e Ayinger Celebrator. Não diga salveitor, nem celebreitor: é salvátor e celebrátor.

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Baviera Olhe para a origem das cervejas da lista acima. Das cinco, quatro são bávaras. Não é à toa. A região de Munique concentra a tradição cervejeira e a imagem que temos de cerveja alemã (Oktoberfest, por exemplo). Mas isso não quer dizer que outras regiões da Alemanha não tenham boas cervejas. Há cervejas em todo o país, e receitas típicas de outras regiões que vem sendo resgatadas, como a gose de Leipzig, que é uma cerveja de trigo, ácida, que passa por refermentação láctica e tem adição de sal.

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