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Suzana Barelli

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Le Vin Filosofia

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Elas são mães e também enólogas

Confira a história de mulheres que conseguiram conciliar esses dois mundos e até se inspirar na sua vida pessoal para os seus projetos profissionais

Cada profissão tem as suas particularidades e isso não é diferente com a enologia. Desde o primeiro dia em sala de aula, os futuros profissionais da arte de elaborar brancos e tintos aprendem que não há horário durante o período de colheita e da fermentação – nenhuma uva espera dar 7 horas da manhã para amadurecer e nenhum tanque “trabalha” apenas oito horas por dia. E aprendem também que é preciso sempre degustar, do mosto (que é o suco da uva prensada) ao vinho pronto.

Realidade da profissão, estas particularidades tornam mais difícil o trabalho de muitas mulheres nas vinícolas, principalmente quando estão grávidas, amamentando ou com filhos pequenos, e ajudam a explicar porque há muito mais homens na linha de frente neste setor. Mas há aquelas que conseguem conciliar estes dois mundos e até se inspirar na sua vida pessoal para os seus projetos profissionais – um exemplo é o rótulo Crios, da enóloga argentina Susana Balbo, que tem como símbolo a mão da mãe embalando a de suas então crianças.

Viviana Navarrete, enóloga e mãe de três filhos. Foto: Viña Leyda

Neste Dia das Mães, os exemplos das enólogas Viviana Navarrete, da chilena Viña Leyda, no Hemisfério Sul, e Sandra Tavares, da portuguesa Wine & Soul, no Hemisfério Norte, são a nossa forma de homenagear todas as mães desta profissão, que tem o seu glamour e também as suas muitas exigências.

As duas têm três filhos, em gestações vividas em pleno exercício profissional. Na vida de Viviana, as gravidezes aconteceram enquanto ela ia galgando degraus na sua vida profissional. Quando ela chegou à Leyda, 15 anos atrás, eram 20 hectares de vinha. Hoje, ela é a principal enóloga do projeto, que conta com 164 hectares de vinhedos. “Atualmente, a indústria está mudando positivamente, com leis que protegem à maternidade. Antes, nos viam como pessoas que atrapalhavam”, conta ela. Segundo ela, leis, como o maior período de licença maternidade, ajudam a ter mulheres mais comprometidas com a indústria do vinho.

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Sandra, por sua vez, ficou grávida do primogênito Francisco, quando já havia fundado a sua própria vinícola, em sociedade com o marido, o também enólogo Jorge Serôdio, e depois teve um casal de gêmeos. Juntos, o casal elaborou o Pintas, um tinto que fez sucesso logo em sua primeira safra, duas décadas atrás, e que deu origem a outros projetos, como o Guru (um dos melhores vinhos brancos do Douro) e o Quinta da Manoella. Eleita enóloga do ano 2021, pela revista Grandes Escolhas, Sandra também elabora vinhos no projeto da família, a Quinta da Chocapalha, e tem com a amiga Susana Esteban, dois outros grandes vinhos, o Tricot, no Alentejo, e o Crochet, no Douro.

A mãe e enóloga Sandra Tavares, daWine & Soul. Foto: Lino Silva

Durante a gravidez, as duas conciliaram o crescimento da barriga com o dia a dia da vinícola. “Lembro do olhar de pânico da equipe quando eu, então com oito meses de gravidez, subi numa escada bamba para conferir a fermentação de um tanque”, conta Viviana. A barriga enorme não foi um limitador de seu trabalho, assim como o período de amamentação. “Tinha uma entrevista importante, que eu interrompi para dar de mamar para a minha filha”, lembra.

Sandra, por sua vez, conta que sua obstetra só lembrou que ela era enóloga no quinto mês de gestação e aí disse que ela não podia provar vinhos. “Mas penso que quando o organismo está acostumado, e sempre com muita moderação, não tem problema”, defende Sandra.Nas necessárias degustações, as duas apenas provavam e cuspiam os vinhos (é a técnica que os profissionais utilizam para analisar a bebida sem serem muito impactados com o álcool).

Viviana só lamenta que a sua sensibilidade a aromas e sabores não ficou ampliada durante a gravidez, como acontece com muitas mulheres. Sandra, por sua vez, adorou a maior sensibilidade que veio com a gestação. “Era incrível. Eu era super sensível a aromas florais primários, que normalmente não sentia com tanta intensidade”, lembra.

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Como mãe, as duas investiram (aliás, investem) para que os filhos gostem de seu trabalho tanto quanto elas, chegando sempre bem-humoradas em casa e destacando as coisas boas da sua rotina e acreditando que, se a mãe está feliz, os filhos também ficam felizes. “Os meus filhos nasceram em julho e setembro e sempre os tive comigo na adega”, lembra Sandra. No Hemisfério Norte, a colheita e a vinificação ocorrem em meados do segundo semestre. “Hoje, quando vamos ao supermercado e se os vinhos da Leyda estão em destaque, as crianças vibram. Uma vez tinha um espaço com umas 30 caixas de Leyda e as crianças gritavam de empolgação como se estivessem na Disney”, diz Viviana.

Mas o melhor exemplo é que agora a Viña Leyda está pensando em fazer experimentos com a uva grenache, por uma sugestão do filho de Viviana. Em viagem com o pai (que também é enólogo), o filho ouviu que a variedade grenache estava se adaptando muito bem em solo granítico no norte do Chile. Ele chegou em casa e comentou com a mãe que os solos graníticos do vale de Leyda também poderiam se adaptar à grenache. A previsão é que este ensaio com a variedade comece logo depois do termino da fermentação desta safra.

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