O vinho natural já arregimentou seguidores importantes, de celebridades aos mais exigentes críticos, e é uma das tendências mais fortes atuais no mundo das bebidas. No Brasil, aos poucos, ele ganha força. A mais nova empreitada é uma importadora que traz apenas vinhos que se enquadram na categoria. A Garrafa Livre tem uma filosofia que une conscientização – prega o comércio justo, com o menor preço possível para o consumidor final – e o hedonismo – comer e beber bem.
Por trás dela, há um brasileiro na França, Paulo Almeida, encarregado de encontrar os vinhateiros, e um francês no Brasil, Pierre-Antoine Fosseux, que faz o contato com os consumidores. “A vida mostra caminhos incríveis, o brasileiro na França facilita o contato com os produtores, explica melhor o Brasil ao mercado, e o francês é a cara dos nossos vinhos, tropicalizados mas sem perder o sotaque”, afirma Almeida.
Com menos de um ano de vida, a importadora hoje trabalha com seis produtores e 17 rótulos. Todos são franceses, mas eles querem diversificar. Fosseux chama atenção para a produção italiana, eslovena, georgiana. Os sócios dizem buscar vinhos fáceis de beber e cortes com cepas desconhecidas, como a Negrette, presente em dois rótulos do Garrafa Livre.
O trabalho de seleção começa em degustações em bares parisienses, vai à propriedade, e invariavelmente termina em amizade. “Você imagina chegar num vilarejo nas montanhas perto de Perpignan de carro e o vinhateiro estar no meio da rua de braços abertos nos esperando? Ou passar o dia na piscina provando vinho e falando da vida e de negócios com a família Cauvin da Colombière?”
Com câmbio desvalorizado e alta tributação, o Garrafa Livre não consegue tirar seus rótulos da margem dos R$ 100. O mais barato do catálogo é o Reference 2014, Domaine de Pothiers, da região de Villemontais, que custa R$ 112,80. Para segurar os valores, a empresa tem estrutura enxuta – há só mais um sócio, que cuida da área jurídica e administrativa –, descartou ter loja física e adotou um esquema que elimina o pagamento do frete, com retirada da mercadoria em diferentes pontos da cidade – do Mestre Queijeiro em Pinheiros à Cervejoteca Tatuapé.
Mas o maior desafio, diz Fosseaux, é explicar o que é o vinho natural, um produto sem definição fechada (leia ao lado). Sua esperança é que o consumidor repita a experiência de Almeida ao provar um natural pela primeira vez: “Foi uma epifania!”Onde www.garrafalivre.com.br
FRANÇA DISCUTE CONCEITO DE VINHO NATURAL
Na França, o mundo do vinho natural está cercado de polêmica – ao mesmo tempo em que o país é expoente na produção de natuais. Na última semana, integrantes do INAO, o instituto nacional de origem e qualidade do vinho francês, se reuniram para tentar chegar a uma definição precisa de vinho natural. O problema é que há discordância no conceito, inclusive entre produtores da bebida. E há ainda aqueles que não querem ser encaixados em uma categoria fechada.
A AVN, associação de produtores de vinhos naturais da França, diz que um vinho natural é aquele produzido por meio de métodos naturais, sem aditivos. Para alguns, a definição é vaga. Mas a AVN diz que a discussão está no começo e que espera esclarecer todas as dúvidas com produtores e consumidores.
Duas sugestões até R$ 120
Lis Cereja, da Enoteca Saint Vin Saint, indica rótulos para conhecer os naturais.
CACIQUE MARAVILLA GUTIFLOWEROrigem: Yumbel, ChilePreço: R$ 90, na La Charbonnade
Este vinho laranja é um corte de 70% de Moscatel de Alexandria, 20% de Corinto e 10% de Torontel do Vale do Bío-Bío. Fermenta em cubas de madeira Ráuli, típicas do Chile, e a maceração da uva leva dois meses. O vinho estagia por cinco meses em madeira e não é filtrado. A produção é superlimitada: só 2 mil garrafas.
SEMPLICEMENTE VINO CASCINA DEGLI ULIVIOrigem: Piemonte, ItáliaPreço: R$ 112, na Piovino
Produzido na fazenda biodinâmica de Stefano Belotti com Barbera e Dolcetto, tem fermentação com leveduras nativas e maceração por um mês em tanques de aço inox. É levemente filtrado e tem 13,5% de álcool.