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Bebida

Morre o crítico Saul Galvão

Morre o crítico Saul GalvãoFoto:

Os leitores do Estado e do JT nos últimos trinta anos aprenderam que o vinho e a comida tinham um rosto. Uma feição conhecida, onde se destacava um vasto bigode. Os prazeres da bebida e da gastronomia tinham, em suma, a cara de Saul Galvão.

Crítico de restaurantes, culinarista, conhecedor de tintos, brancos, espumantes, Saul Galvão de França Júnior morreu nesta quarta-feira, 9, aos 67 anos, de complicações advindas de um câncer. Ele vinha se tratando há dois anos e, até julho, publicou sua coluna de vinhos no Paladar.

Saul nasceu em Jaú – “modéstia à parte”, como ele dizia – em 3 de abril de 1942. Veio para São Paulo em 1960 para estudar direito no Largo São Francisco, mas não concluiu o curso. Partiu em busca de um ganha-pão mais imediato: começou a trabalhar como jornalista. Foi contratado pelo Grupo Estado em 1965. Na década de 70, trabalhou nas editorias de Internacional e de Política do Estadão. O Saul da comida, dos vinhos, dos livros, entretanto, já estava se aprontando para entrar em cena.

Em 1978, começou então no JT sua trajetória de crítico de restaurantes. Ele entrou no lugar de Paulo Cotrim, um dos precursores desta modalidade de jornalismo em São Paulo. No início, acumulou os temas gastronômicos com as lides políticas (ele era chefe de reportagem da editoria nacional). Mas deu tudo tão certo nas novas atribuições que logo ele trocou de vez a hard news pelo universo dos cardápios e pratos.

Nos anos 80, aproveitando as viagens frequentes à França, fez estágios em restaurantes consagrados como Moulin de Mougins e Troisgros. Passou então a exercitar mais intensamente do que nunca os dotes na cozinha. Tanta informação acabou dando origem a seu primeiro livro, Os Prazeres de Mesa (1987). Vários outros viriam, como os Prazeres da Mesa 2 (1995) , A Cozinha e seus vinhos (1999) e A Essência do Sabor.

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Ao mesmo tempo, havia o mundo do vinho. Saul era um dos maiores experts do Brasil, ainda que a erudição jamais tivesse se transformado em afetação. “Ele era de longe o maior conhecedor do país. Mas era uma pessoa simples, cativante, e falava o que pensava. Vai fazer muita falta”, lamenta Belarmino Iglesias Filho, dono da rede Rubaiyat.

Além da grande sensibilidade como degustador, tinha conhecimentos técnicos e históricos. Em 1992, lançou seu livro mais conhecido nesta área, Tintos e Brancos, referência até hoje para amadores e profissionais. O nome do livro batizava também sua coluna no Estado. “Saul era o jornalista mais querido na área. Sua coluna era a que mais repercutia. Bastava sair um vinho com uma nota alta, o reflexo já aparecia na loja”, conta Ciro Lilla, proprietário da importadora Mistral.

Nos últimos anos, os leitores se acostumaram aos textos infalivelmente semanais no Paladar, às quintas, e no Guia às sextas. Foram milhares de restaurantes e vinhos resenhados. Saul gostava de descomplicar, de mostrar que a boa mesa não devia ser tratada com esnobismo, mas apenas apetite. A paixão pelos sabores ele transformou em slogan pessoal, não só no jornalismo impresso mas na Rádio Eldorado e em seu blog no estadao.com.br: O negócio é passar bem.

Um dos jornalistas com mais tempo de casa no Estado, por conta da doença ele vinha tornando suas idas ao jornal menos frequentes. Mas chegava sempre com o mesmo estilo: “Cavalheiro!”, era sua saudação habitual. Será sempre lembrado na redação pela personalidade expansiva, pelas frases espirituosas. Pela generosidade em dividir um profundo conhecimento com seus colegas. E pelo sincero prazer em apreciar bons pratos e vinhos.

O corpo de Saul será velado em Jaú, sua cidade natal, às 16h desta quarta. Em São Paulo haverá a missa de sétimo dia.

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Como ele costumava dizer, na hora de ir embora: “Messieurs et Dames! On y va

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