PUBLICIDADE

Bebida

O caminho das pedras - e dos minerais

No creo en los minerales, pero que los hay, los hay. A mineralidade virou muleta para descrever todo tipo de vinho. O fato é que a ciência tem mostrado não haver relação direta e comprovada entre o mineral que está no solo e o calcário ou ferro que alguns percebem na taça. Mas como provar um Riesling do Mosel e não associá-lo a cheiro de querosene ou pedra de isqueiro? Ou não topar com o aroma de ferrugem ou grafite em um tinto do Priorato?

Matetic Corralillo Winemaker’s Blend 2009
San Antonio, Chile
Preço: R$ 106
Onde: Grand Cru
Mineral: granito, encontrado na costa chilena, Beaujolais e Rhône norte (França).
Este blend de Cabernet Franc, Malbec e Syrah dá boa complexidade aromática com frutas negras (amora e ameixa), pimenta-negra, terra, baunilha e algo metálico. Os taninos são potentes e compactos, sustentados por boa acidez, que transmite bom potencial de evolução.Foto:

Mineral. Pedra de Xisto da região do Priorato. FOTOS: Marcel Miwa/Estadão

 Se a origem ainda não está clara, é pacífico que alguns vinhos realmente mostram o que se convencionou chamar de características minerais. Vamos esclarecer: a descrição dos vinhos é feita por analogias, com referências da memória olfativa de cada um, e, por essa razão, não existe certo ou errado. Entre pesquisadores e especialistas há muita discussão sobre como se expressa a tal mineralidade – se ela emana do aroma, sabor ou textura.

Por exemplo: o geólogo chileno Pedro Parra costuma associar um solo granítico a taninos marcantes e o solo calcário à sensação de finesse e sapidez nos tintos, ambos notados na boca. Já o francês Claude Bourguignon, especialista em microbiologia do solo, concorda que os minerais não tem odor, exceto o sílex, que remete a pedra de isqueiro (aquele aroma exalado quando se tenta ascender um isqueiro sem gás ou fluído).

O mesmo especialista afirma que as rochas conseguem liberar minerais para as raízes das plantas, que, embora sejam incapazes de absorvê-las, criam condições específicas para que as enzimas no solo e na videira trabalhem. Essas enzimas, sim, prova a ciência, são capazes de sintetizar sabores nas plantas. Isso explicaria por que vegetais hidropônicos são menos saborosos.

Michel Chapoutier, enólogo natural do Rhône, tem visão semelhante e já criou polêmica no mundo do vinho ao dizer que os aromas derivados de petróleo não deveriam existir em Riesling jovens, que isso era sinal de um estilo de vinificação (e não do terroir). Para Chapoutier, a complexidade e, consequentemente, a mineralidade nos vinhos depende da diversidade de bactérias no solo. As bactérias, diz ele, recebem os minerais e os transformam em substâncias assimiláveis pela videira. E cita o exemplo do solo calcário, que privilegia o trabalho de certas bactérias que transportam o cálcio para as videiras.

PUBLICIDADE

Paisagem da região de La Rioja

Explicação que vai de acordo com a conversa que tive certa vez com o viticultor Hector Rojas, da vinícola chilena Tabalí. Rojas constatou que no solo calcário de Limarí as uvas desenvolviam cascas mais grossas, duras e espessas (influência do cálcio).

Resumindo: embora os mecanismos de criação de sensações minerais ainda não estejam definitivamente explicados, não é absurdo associar certos aromas, sabores ou texturas a certos tipos de solos – ou pelo menos, certos vinhos a certos elementos minerais.

Para provar isso, escolhi cinco rótulos que ilustram com alguma nitidez a presença de minerais como granito, sílex, xisto, calcário e cascalho nos vinhos.

Prove as cinco garrafas listadas ao lado e deixe a subjetividade falar mais alto, decidindo você mesmo: consegue notar os minerais na boca?

PUBLICIDADE

Matetic Corralillo Winemaker’s Blend 2009 San Antonio, Chile Preço: R$ 106 Onde: Grand Cru Mineral: granito, encontrado na costa chilena, Beaujolais e Rhône norte (França). Este blend de Cabernet Franc, Malbec e Syrah dá boa complexidade aromática com frutas negras (amora e ameixa), pimenta-negra, terra, baunilha e algo metálico. Os taninos são potentes e compactos, sustentados por boa acidez, que transmite bom potencial de evolução. 

De Martino Chardonnay Single Vineyard Quebrada Seca 2001 Limarí, Chile Preço: R$ 131,30 Onde: Decanter Mineral: calcário, encontrado na Borgonha, Champagne, Piemonte e Limarí. O nariz é dominado por aromas marinhos (ostra), com a fruta madura no segundo plano (pera e maçã). A textura é delicadamente untuosa com bom frescor. No final aparecem aromas de iogurte natural, amêndoa e giz.

Quinta Vale Dona Maria Rufo Tinto 2011 Douro, Portugal Preço: R$ 79,00 Onde: World Wine Mineral: xisto, encontrado no Douro, Priorato (Espanha) e Mosel (Alemanha). O nariz não é muito intenso, com algo de groselha, cereja e cacau. Os taninos são bem finos, com álcool bem integrado e um toque de grafite. No final, um tostado de carvão, violeta e leve hortelã.

Domaine Chatelain Sancerre Sélection 2011 Loire, França Preço: R$ 89,00 Onde: Chez France Mineral: sílex, encontrado no Loire e Jurançon (França). Os aromas de grapefruit, acerola e aspargo são harmoniosos. Na boca, algo de pólvora e pedra de isqueiro; ótima acidez. O final limpo e elegante forma conjunto fresco típico dessas regiões francesas.

Salentein Reserve Merlot 201 Mendoza, Argentina Preço: R$ 78 Onde: Zahil Mineral: cascalho (aluvial), encontrado em Bordeaux (França), Maipo (Chile) e Mendoza. Embora seja raro achar bons Merlots na Argentina, este vinho do Vale de Uco tem boa expressão da fruta, sem concentração demais.

PUBLICIDADE

PUBLICIDADE