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O laboratório chamado Languedoc

Sob um sistema de denominação de origem menos rígido, vinicultores da região se sentem mais livres da tradição

O laboratório chamado LanguedocFoto:

Por Eric AsimovThe New York Times 

Nos anos 1990, meu filho ainda menino, intrigado com as muitas construções em nossa vizinhança em Manhattan, perguntou: “Pai, quando vão acabar de construir Nova York?”. Lembro dessa pergunta sempre que abro um vinho do Languedoc, uma região que também parece viver em permanente transição.

Pegue qualquer artigo sobre o Languedoc dos últimos 25 anos e é provável que o tema seja sempre o mesmo: como um oceano de mediocridade está evoluindo para a plenitude de seu vasto potencial. Se ficar a sensação de que o Languedoc, embora no caminho certo, nunca chega lá, a explicação é que a região pode chegar tão longe que o destino final fica até meio ofuscado, como em Nova York.

No entanto, o progresso é real. A evolução do Languedoc, porém, não é meramente linear – isso seria muito simples, muito fácil, tratando-se de uma região que pode ser tão desafiadora quanto gratificante.

Melhores. O Faugères Jadis 2009 ficou em primeiro. O Tour de Pierres, segundo, foi o mais barato: US$ 15. FOTOS: Divulgação

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Há poucas semanas, testei 20 garrafas de tintos de safras recentes do Languedoc. Ficamos só no Languedoc, sem incluir a vizinha Roussillon, frequentemente associada à primeira na ampliada Languedoc-Roussillon.

Ficou claro por que o Languedoc é chamado de a Califórnia da França. O rigoroso sistema de denominação de origem francês é menor no Languedoc. Por muitos anos uma enorme provedora de vinhos para o resto do país, a região teve de fazer experimentações que às vezes embaçam um pouco sua identidade vinícola.

Mas em compensação muitos de seus produtores se sentem mais livres para trabalhar com uvas não tradicionais da região. Carignan, Cinsault, Grenache, Syrah e Mourvèdre ainda predominam, embora a proporção de Syrah tenha aumentado e a de Carignan, diminuído. Mas uvas internacionais como Cabernet, Merlot e outras agora fazem parte da mistura, especialmente nos chamados “vinhos nacionais”.

Um resultado disso, sentido na degustação, foram vinhos de grandes contrastes. De copo para copo, houve violentas guinadas de estilo. Alguns vinhos evocaram o que sempre imaginei ser a face selvagem da região mediterrânea: colinas pedregosas perfumadas de lavanda e tomilho silvestre. Outros eram poderosos vinhos modernos, dominados por fruta madura e carvalho. Alguns eram rigorosos, tânicos, quase austeros. Outros eram densos, embora flexíveis. E surgiu um novo estilo, incorporando o método de Beaujolais de vinificação por maceração carbônica que pode produzir vinhos picantes, fáceis de tomar.

“Os estilos tornam a região interessante”, disse Michael. “As uvas no geral são realmente boas, de um grande terroir.” Os melhores vinhos foram os mais característicos, aqueles que não poderiam ter saído de outro lugar que não a França mediterrânea. Os vinhos frutados, com carvalho, podem competir sem dúvida na cena global. O que, então, os tornaria diferentes de vinhos similares dos Estados Unidos, América do Sul, Toscana ou Austrália? O preço, talvez?

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A evolução do Languedoc continua, com nebulosas denominações de origem regionais e um punhado de zonas e subzonas. Mudanças vêm sendo feitas, embora não esteja claro quando serão oficializadas.

Enquanto isso, a terra no Languedoc permanece relativamente barata, atraindo novos vinicultores para tentar a mão em mostrar a expressão do terroir. Pode levar tempo até os andaimes de construção serem retirados.

/ Tradução de Roberto Muniz

>> Veja todos os textos publicados na edição de 6/12/12 do ‘Paladar’

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