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Bebida

O vinho verde começa a amadurecer

O vinho verde está amadurecendo. Até pouco tempo os brancos produzidos no Minho, região mais setentrional de Portugal, eram conhecidos pela simplicidade, boa acidez, aquela ponta de doçura e a reconhecível “agulha” (leve gaseificação). Hoje um grupo de pequenos produtores começa a dar feições mais adultas a esse vinho, desenvolvendo um estilo que está conquistando novos fãs. O frescor ainda está lá, mas os novos vinhos são secos, limpos, sem a interferência do gás carbônico e com boa estrutura.


A região do Minho tem vegetação frondosa, a cor verde predomina, daí o nome do vinho FOTO: DIVULGAÇÃOFoto:
A região do Minho tem vegetação frondosa, a cor verde predomina, daí o nome do vinho FOTO: DIVULGAÇÃO 

Muita gente imagina que os vinhos verdes sejam produzidos com uvas colhidas antes da maturação. Mas não, o nome é uma alusão à vegetação frondosa da região do Minho, que tem elevado índice pluviométrico.

Bruno Almeida, enólogo do CVRVV (Comissão de Viticultura da Região dos Vinhos Verdes), diz que os vinhos verdes vivem um bom momento, com crescimento de 54% no valor das exportações acumulados nos últimos cinco anos. Para ele, os vinhos da região têm o perfil que agrada à geração Y: fáceis, sem madeira e com boa relação entre qualidade e preço.

O Minho está logo acima do Douro e seu terroir está mais próximo de seu vizinho ao norte, a Galícia, já em território espanhol, famosa pelos brancos. Territorialmente, a região onde nascem os vinhos verdes é a maior de Portugal. No entanto seus vinhedos estão bastante fragmentados, resultado da longa história da região.

Na parte enológica, o primeiro grande passo para a região foi em 1949, quando a OIV reconheceu os Vinhos Verdes como Denominação de Origem. Porém, até a década de 1980 os tintos, principalmente produzidos com a Vinhão, dominavam a produção local. Na mesma década, um estudo mostrou maior aptidão para a produção de brancos e os rústicos tintos começaram a ceder espaço para cepas brancas locais como Alvarinho, Loureiro e Avesso.

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Ainda hoje, dos 80 milhões de litros produzidos na região dos vinhos verdes, a maioria é de brancos leves, frescos, com sutil gaseificação e doçura. Mas alguns pequenos produtores já navegam nesse novo estilo.

Anselmo MendesUm veterano entre os novos. O enólogo (foto) deixou o Douro em 1997 para dedicar-se ao Minho, sua terra de origem, e à casta Alvarinho, com a qual fez vários experimentos aproveitados em algumas de suas linhas, o que lhe rendeu o apelido “Senhor Alvarinho”. Os destaques são Muros Antigos Alvarinho 2014 (R$ 128,40 na Decanter), bela carta de apresentação da variedade, com seus aromas de limão-siciliano, pêssego e flores brancas, ótimo frescor e leve salinidade, e o Alvarinho Contacto 2014 (R$ 114,60 na Decanter), produzido de forma muito parecida com o Muros Antigos, com expressão cítrica austera.

Quinta da Calçada Com sede em Amarante, a Quinta da Calçada existe desde 1927, mas só recentemente se dedica a aprimorar a qualidade. E um dos pontos de apoio para essa nova fase da vinícola é a exploração do vinhedo mais antigo de todo o Minho, uma parcela de meio hectare plantada em 1927 com diversas variedades brancas misturadas.

Entre os vinhos, que ainda não estão no mercado brasileiro, o grande destaque é a dupla Casa da Calçada Exuberant 2013, de frutado elegante com nuances minerais, e Terroir 2014. A mescla de Alvarinho, Loureiro e Arinto que mostra um lado cítrico exuberante, também com alguma lembrança mineral, mas cítricos e florais aparecem com maior intensidade.

Quinta da Pedra Após investimento de mais de A 20 milhões em propriedades no Minho, Bairrada e Dão, o empresário Carlos Dias, vindo do mercado de relógios na Suíça, aposta nas castas Alvarinho e Loureiro. Custódio Dias, irmão de Carlos, à frente da linha de produção, conta com a assessoria do francês Pascal Chatonnet, de Bordeaux, na parte enológica. O Senhoria Alvarinho 2011 (R$ 68,50 na Kylix) é limpo e com mineralidade que remete ao talco. Um outro destaque da vinícola é o Passo da Palmeira Loureiro 2009 (R$ 138, na Kylix). A segunda variedade local mais popular se mostra fresca, elegante e rica em aromas de flores brancas, limão e pedra de isqueiro.

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O jornalista britânico Tony Smith, um dos sócios da Quinta da Covela FOTO: MARCEL MIWA/ESTADÃO 

Quinta da Covela No extremo sul do Minho, já na divisa com o Douro, a Quinta da Covela pertenceu ao cineasta português Manoel de Oliveira até a década de 1980. Em 2011 o brasileiro Marcelo Lima, ex-executivo da área financeira, e o jornalista britânico Tony Smith arremataram a Quinta da Covela e colocaram em ação o plano para recuperá-la. Entre os brancos merece destaque o Covela Vinho Verde Avesso 2013 (R$ 97, na Magnum), com frescor típico da região. Boa novidade é o Covela Reserva Branco 2013 (rótulo ainda não importado para o Brasil), mescla de Chardonnay e Avesso.

O MINHO

Vinhedos 21 mil hectares (15% dos vinhedos de Portugal)

Origem do nome O bom índice de chuvas (1.200 mm/ano em média) faz que a região do Minho tenha vegetação frondosa e a cor verde domine a paisagem, daí a origem do nome, que não tem relação com a colheita antecipada de uvas

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Principais variedades Alvarinho, Loureiro, Avesso, Trajadura e Arinto

Outras vinícolas para ficar de olho Casal de Ventozela, Quinta da Lixa (importado pelo Palácio dos Vinhos), Quinta de Santa Cristina, Quinta de Linhares (Premium), Aphros (Tambuladeira), Quinta do Ameal (wine.com.br)

Denominação de Origem 96% dos vinhos da região possuem qualificação de D.O.. Uma pequena parcela adota a Indicação Geográfica Minho. Além de controle de variedades, práticas de viticultura e enologia, os vinhos são submetidos a prova de degustação. Apenas vinhos com pontuação superior a 50 podem ter a D.O.; vinhos com mais de 70 pontos podem ser rotulados como Reserva.

>>Veja a íntegra da edição do Paladar de 19/3/2015

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