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Os heróis anônimos de regiões festejadas

Isabelle Moreira Lima

Os heróis anônimos de regiões festejadasFoto:

Certas uvas viraram sinônimo de determinadas regiões. E como ficam as outras? Muito bem, obrigada, gerando bons vinhos em seu anonimato. E, se eu fosse você, começaria a prestar atenção nelas. Em 2012, a crítica inglesa Jancis Robinson e seus coautores no livro Wine Grapes catalogaram 1.368 uvas. Para que ficar só na Cabernet Sauvignon, na Merlot ou na Malbec? Pensando em tirar sua taça da mesmice, selecionamos seis tintos elaborados com as segundas uvas de regiões cuidadosamente escolhidas.

Para começar, a italiana Montepulciano. Embora seja a segunda uva mais cultivada no país, é ofuscada pela Sangiovese, base do Chianti toscano e presente no famoso Brunello. Sua versão mais conhecida é a cultivada na região de Abruzzo. É uma uva que produz tintos de corpo médio, com boa acidez e fruta. Além de ser fácil de combinar com muitos pratos da cozinha italiana, tem como vantagem o preço competitivo.

Da Espanha, escolhemos a Mencía, geralmente eclipsada pela Tempranillo, quase sinônimo de vinho espanhol. Esta uva foi uma das primeiras plantadas pelos romanos na península ibérica, mas quase desapareceu com o ataque da phyloxera, a Guerra Civil espanhola, entre outros percalços. Renasceu nos anos 1990 com um grupo de produtores entusiastas de Bierzo, no noroeste espanhol. Em geral, produz tintos leves, frutados e macios, mas, nas mãos de bons vinicultores e enólogos, dá origem a vinhos de complexidade maior, com notas associadas aos solos xistosos dos melhores vinhedos de Bierzo.

FOTO: Alessia Pierdomenico/Reuters

Em Portugal, a coisa se complica: é um dos países com a maior oferta de uvas viníferas – quase 300 –, parte delas são populares e outras vivem em um anonimato profundo. Escolhemos uma casta considerada “rebelde”, pelo difícil cultivo e pelos taninos selvagens, a Baga. Pequena e de casca espessa, é comum no norte do país. Quando bem trabalhada e com algum envelhecimento, dá tintos comparáveis aos grandes tintos à base de Nebbiolo do Piemonte. Na Argentina, a Bornarda já foi a grande estrela. Nos anos 1960, era a mais plantada. Por suas características, era muito usada para dar cor a vinhos de corte. Nos últimos 30 anos, muitos de seus vinhedos foram erradicados em favor da Malbec. Para os amantes da Bonarda, a boa notícia é que sobraram vinhedos antigos, com menor rendimento e maior qualidade.

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Adotamos lógica similar para escolher nossa representante chilena, a Carignan. O país, que hoje celebra seus Cabernet Sauvignon e Carmenère, tem vinhedos muito antigos dessa cepa, principalmente no Maule. De difícil manuseio, a Carignan tem seguidores fiéis, inclusive entre os produtores, que criaram o grupo Vingadores de Carignan – usam apenas uvas de antigos vinhedos, cultivadas sem irrigação, e envelhecem seus vinhos por pelo menos dois anos. Nos melhores exemplares, um vinho à base de Carignan recompensará o consumidor com boa estrutura e rusticidade.

Para concluir, a Cabernet Franc da França. Presente no clássico corte bordalês, para conhecê-la melhor é preciso ir ao Loire, onde dá tintos com boa estrutura, aromas florais e herbáceos e notas terrosas na boca, e mostra que não é apenas uma versão menos intensa (em cor, acidez e taninos) de sua filha famosa, a Cabernet Sauvignon – fruto do casamento com a Sauvignon Blanc.

Escolhidas as uvas preteridas, o especialista Guilherme Velloso, os sommeliers Tiago Locatelli e Gabriela Monteleone e eu fomos à prova no restaurante Varanda (leia abaixo).

GABA DO XIL MENCIA 2010 TELMO RODRIGUEZ

FOTOS: Felipe Rau

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Origem: Valdeorras, Espanha Preço: R$ 111, na Mistral Complexo – notas de cogumelo, terra, flores e gás –, este vinho está pronto para o consumo. Apesar dos taninos firmes, é macio. Combina com embutidos, porco e carnes de caça.

Outra opção: Bodegas Peique Viñedos Viejos 2010 (R$ 134,60, na Decanter)

 FILIPA PATO BAGA 2013

Origem: Bairrada, Portugal Preço: R$ 55 na Casa Flora Produzido com uvas de vinhas de 15 a 80 anos de solo argilo-calcário, tem aromas de ervas – alecrim, sálvia, louro. Maturado em cubas de inox, é fresco, limpo, com final salino e frutado, tem boa acidez e é ideal para pratos como barriga de porco.

Outra opção: Pato Rebel 2010 (R$ 155,96, na Mistral)

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LUPI REALI 2013 MONTEPULCIANO D’ABRUZZO

Origem: Abruzzo, Itália Preço: R$ 62 na Zahil É um vinho leve, fresco, que não passa por barris de carvalho. Tem aromas de grama, é limpo, direto e tem boa acidez. Vai bem com massas com molho de tomate e bracciola.

Outra opção: Zaccagnini Montepulciano D´Abruzzo Tralcetto 2012 (R$ 112, na Ravin)

O. FOURNIER URBAN CARIGNAN 2013 

Origem: Maule, Chile Preço: R$ 69,47, na Vinci Único vinho que não brilhou na degustação, apresentou excesso de madeira, apesar de ter passado só três meses em barricas de carvalho. Tem aromas de frutas supermaduras e vai bem com carnes defumadas.

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Outra opção: Morandé Edición Limitada Carignan 2010 (R$ 160, na Grand Cru)

COLONIA LAS LIEBRES BONARDA 2012

Origem: Mendoza, Argentina Preço: R$ 49,50, na World Wine Este Bonarda começa o gole com muita fruta, mas tem final seco, que lembra chocolate amargo. Com acidez e cor bem típicos e sem estágio em madeira, vai bem com morcilla.

Outra opção: Matias Ricititelli The Apple Doesn’t Fall Far From The Tree Bonarda 2013 (R$ 122, na Winebrands)

COULY-DUTHEIL CHINON LA BARRONIE MADELAINE 2009

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Origem: Vale do Loire, França Preço: R$ 131 na Decanter Excelente expressão da variedade, este Chinon tem aroma de flores, terra e minerais. O corpo médio e os taninos bem estruturados e secos fazem dele bom par para um confit de pato.

Outra opção: Domaine Pallus Les Pensées de Pallus 2008 (R$ 167,12, na Vinci)

>>Veja a íntegra da edição do Paladar de 30/7/2015

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