Ao fazer tantos vinhos, se preocupa em dar diferentes identidades a eles? É preciso ter respeito ao que temos: o solo da fazenda, a escolha das uvas. Não posso fazer vinhos iguais com diferentes cepas. Não posso fazer em um solo com um tipo de exposição ao sol o mesmo que faço com a exposição contrária. É preciso respeitar, não tento mudar. O que sei fazer melhor, com toda modéstia, é trabalhar com as condições dadas.
Consegue manter sua marca e respeitar essas características? Acho que existe a marca de enólogo. E eu, como enólogo, não posso permitir que o vinho seja sujo. Isto é duro, fechado, com muito enxofre. Tenho que pensar que a madeira A, com a altitude B e a característica de terroir C pode fazer um vinho limpo, bem feito.
O Brasil é seu principal mercado hoje. Tem uma avaliação sobre o gosto dos brasileiros? O Brasil está passando por uma fase diferente atualmente. Em tudo na vida quando há uma moda, há também a antimoda. A gastronomia tem isso: uma boa comida japonesa é, muitas vezes, a antítese da gastronomia tradicional europeia. E o Brasil está em busca de algo diferente, algo distante do que se produz no Novo Mundo, na Argentina, vinhos mais consensuais, que todos gostamos, fáceis de degustar – o que explica tanto sucesso de italianos e portugueses. Os brasileiros andam em busca de vinhos mais elegantes. Não querem marmelada, goiaba, e então eu tento fugir disso, embora esteja no baixo Alentejo, que é a região mais quente que há em Portugal, o que favorece notas como essas.