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Quer seu drinque com ou sem canudo?

Nem todo coquetel merece um canudo, muito menos os oceanos, que já estão cheios de plástico; bartenders indicam quando você deve ter um desses tubinhos no seu copo, e quando deve evitá-lo

Canudo já existe há mais de 6.000 anos. Qualquer estudioso de cerveja já ouviu que foram os sumérios que o inventaram, lá na Mesopotâmia, para justamente beber o fermentado de cereais. Naquela época, quando a cerveja não era filtrada e ficava com as cascas do malte de cevada e sedimentos, eles utilizavam longos canudos para consumir o líquido que estava nas ânforas. Em vários desenhos da época, a cena retratada é de uma grande ânfora com diversos canudos e pessoas bebendo ao redor. Da antiguidade aos dias de hoje muita coisa aconteceu, e o canudo é usado em muitas outras situações. Antigamente, era de palha (por isso é chamado em inglês de straw, que significa palha); hoje é, em sua imensa maioria, de plástico. Os números são assustadores: só nos Estados Unidos, mais de 500 milhões de canudos são usados todos os dias! No Brasil, por questões sanitárias, a legislação obriga que o canudo seja embalado individualmente. E onde vai parar esse monte de plástico? A previsão é que até 2050 haja mais plástico do que peixe nos oceanos...

Com canudo. Se o copo tem gelo batido ou muitos cubos Foto: Tiago Queiroz|Estadão

Atentas à essa questão, existem diversas campanhas contra o uso de canudos. A Bacardi, por exemplo, uma das maiores empresas de bebida do mundo, acaba de lançar uma campanha mundial contra o uso de canudos de plástico, que serão abolidos de todos os eventos do grupo.

Mas alguém já se perguntou por que usamos tanto canudo? Os estabelecimentos colocam no copo ou em cima da mesa sem nem perguntar se queremos ou não. Aposto que a maioria das pessoas nem usam em casa os canudos que usam na rua. Seria influência da cultura americana, onde até a água do restaurante já vem com canudo? É bem provável. Com canudo, puxamos mais líquido, bebemos mais rápido e, consequentemente, consumimos mais. Se forem aqueles canudos grossos, então, nem se fala. Boa estratégia no país do fast-food e “super sizes”. Mas podemos sair do modo automático e pensar no porquê das coisas. E aqui chegamos ao ponto: por que usar ou não usar canudos? Farão eles falta na coquetelaria? Conversando com alguns bartenders, percebi que nem eles param muito para pensar no assunto. Porém, instigados com a questão, levantaram alguns pontos. Com canudo, como já dissemos, além de beber mais rápido, o volume do gole é maior. Portanto, para coquetéis com alto teor alcoólico, mais fortes, isso não é uma boa ideia. A não ser para os mal intencionados! Além disso, bebendo rápido, o líquido vai mais para o fundo da boca e não circula em todas as regiões do palato, o contrário do ideal para degustação. Com canudo, também não molhamos os lábios, não sentimos a bebida passar por eles, o que prejudica a percepção de corpo. Quando a bebida com gás, como gim tônica, é consumida com canudo, a sensação da carbonatação é menor. Se o canudo for fino, então, a bebida entra na boca quase como espuma. 

O canudo serve, muitas vezes, mais como mexedor do que como condutor. Nos coquetéis com fruta, por exemplo, é usado para puxar os pedaços. Em coquetéis montados no copo, em camadas, é útil para uniformizar a bebida. Canudo também tem cara de festa, de coquetel coletivo. E nos coquetéis flambados, aqueles que vêm pegando fogo nos balcões de balada, ele até o salva da possibilidade de chamuscar a sobrancelha. Sem canudo, estamos mais perto do copo, sentindo melhor os aromas. Temos mais controle da entrada do líquido na boca, curtimos mais, bebemos com mais calma. Porém, sem canudo, pode ser incômodo beber coquetéis cobertos de gelo triturado ou tipo frozen. A sensação de refrescância de uma bebida gelada é legal, mas a de uma boca congelando, não. Copos altos e cheios de cubos de gelo também podem ser chatos, já que deixam o gelo batendo na boca ou no nariz a cada gole. Pois é, um simples canudo rendendo tanto assunto. Destilando tudo, as sugestões dos bartenders são:

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 - Coquetéis refrescantes servidos em copo alto, com decoração alta, cheio de gelo, coberto com gelo triturado ou tipo frozen: com canudo.- Coquetéis servidos em copo baixo ou taça, como vinho, balão, dry-martíni, aromáticos, mais alcoólicos ou gaseificados: sem canudo. Concluindo, a ideia não é abolir os canudos, já que eles têm sua utilidade. Mas podemos pensar se estamos usando-os muito mais do que o necessário, prejudicando nossa curtição sensorial das bebidas. Buscar alternativas para o plástico nos casos em que precisamos mesmo de um canudinho é uma boa pedida. Opções como metal, vidro, papel, material biodegradável e até macarrão já são encontradas em ótimos balcões de São Paulo. O planeta agradece, e o seu paladar também.

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