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Bebida

Um novo consumidor de vinhos locais: o vinhovore?

Por Eric Asimov / New York Times

Vinho local; vai bem, mas precisa ter qualidade (. Foto: Phil Mansfield/The New York Times)Foto: Phil Mansfield/The New York Times)
Vinho local; vai bem, mas precisa ter qualidade ( Foto: Phil Mansfield/The New York Times)

Um dos prazeres de trabalhar na venda de vinhos direto aos consumidores é indicar novidades e garrafas que eles não provariam por desconhecimento, em particular aqueles vinhos de que você gosta e quer compartilhar. A alegria da descoberta e da divulgação de uma experiência prazerosa ajuda a criar uma intimidade comunitária em uma sociedade tão nômade e frágil. Mas Jeffrey Wooddy, gerente da Rochambeau Wines, em Dobbs Ferry, Nova York, sente-se frustrado pela pouca receptividade de seus clientes.

“As pessoas vão a feiras de produtos locais ou viajam em busca do autêntico”, disse, “mas quando recomendo um belo branco de Long Island, perguntam ‘tem outra coisa?’” Autoridades têm defendido com convicção os benefícios para o público – políticos, ambientais, éticos e culinários – do consumo de ingredientes e do apoio à agricultura local. Mas onde fica o vinho, que é alimento e produto agrícola, mas, no entanto, não se enquadra claramente em nenhuma categoria?

Para começar, vinho não é um ingrediente fresco. Com raras exceções, não é frágil. Verduras tenras e cerejas delicadas vão perder se transportadas ou tratadas para aumentar sua durabilidade. Vinho é mais como queijo. Ambos nascem de ingredientes efêmeros: leite e uvas. Mas graças à engenhosidade humana, são transformados em algo mais estável, interessante, complexo e transportável. Como disse um velho epicurista, “queijo e vinho representam o esforço humano em transformar o perecível em durável”.

O vinho pode ser transportável, mas sua produção não é. Embora seja feito hoje em todos os 50 Estados americanos, as características e qualidade de um vinho dependem de onde ele é produzido. Assim, embora você possa ter acesso a um ótimo vinho do Colorado se morar em Denver, se quiser um Chianti ele terá de vir de Chianti. Isso vale para qualquer grande vinho que reflita suas origens.

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Vinhos locais fortalecem laços comunitários. Mas David Page, que mantém com a mulher, Barbara Shinn, a Shinn Estate Vineyard em Long Island, vai mais longe. Ele acredita que “casar” vinhos locais com comida local é crucial para o desenvolvimento da cultura local.

“Com o tempo, vinho e comida locais criam a cozinha regional”, diz Page, que já foi chef no norte da Califórnia e em Nova York. “Mas isso pode levar décadas, até séculos para se solidificar” ressalva. “Vi ocorrer na Califórnia nos anos 1970 e 80. Estou vendo acontecer de novo em toda parte, embora, dessa vez, em menor escala.

O impulso para comprar coisas locais pode às vezes ser mais forte que qualquer outra consideração. Mas se o objetivo for aprimorar a cultura e a cozinha da comunidade, então não se pode apoiar indiscriminadamente os produtores locais de vinho. Num certo grau, vinhos de fora podem ter a vantagem de passar pelo filtro de bons produtores e distribuidores, que selecionam o melhor e descartam a zurrapa. Com vinhos locais, o público fica na dependência de comerciantes e sommeliers, como Thomas Pastuszak, diretor de vinhos do NoMad Hotel em Manhattan, cuja lista inclui 17 Rieslings dos Finger Lakes de Nova York, região que defende apaixonadamente.

Mas ele mesmo ressalva: “Sou um locavore, porém não acredito em apoiar a produção local simplesmente por ser local. É preciso ter qualidade. Se tiver, então apoio, e essa qualidade é que vai impulsionar o crescimento da região”. Em síntese, esse é o melhor raciocínio. O vinho não vai ficar bom porque veio da vizinhança ou do Estado, mas porque os produtores estão cultivando bem as uvas, fazendo vinho com sensibilidade e oferecendo produtos bons. Essa sim é a contribuição do vinho para a comunidade e sua cozinha.

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