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Americanizada, não: doidinha por camarão

HISTÓRIAS DA MESAna última quinta-feira de cada mês

Americanizada, não: doidinha por camarãoFoto:

Por Dias Lopes

Uma profecia para 2015: este ano vai se comer muito camarão ensopadinho com chuchu, sobretudo no Rio, terra natal da receita. Tudo por causa dos 60 anos da morte da baixinha, graciosa e rebolante cantora, dançarina e atriz Carmen Miranda, relembrados a 5 de agosto.

Apesar de nascida em Portugal, Carmen passou a infância, a adolescência e parte da vida adulta no Rio de Janeiro, representando como nenhuma outra estrela do palco, do rádio e do cinema o estereótipo carioca e, por extensão, do Brasil, até porque a certa altura da carreira virou baiana estilizada.

O aniversário da morte de Carmen vai estimular o preparo de um dos pratos favoritos dela, na vida e na arte: o camarão ensopadinho com chuchu. A cantora declarou essa predileção no samba Disseram que Eu Voltei Americanizada, de Luiz Peixoto e Vicente Ribeiro, gravado em 1940, ao ter questionada sua brasilidade. Voltando temporariamente ao Rio, depois de mudar para os Estados Unidos, acusaram-na de americanizada.

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Ela respondeu no samba, sem rodeios: “Eu posso lá ficar americanizada? / Eu que nasci no samba e vivo no sereno / Topando a noite inteira a velha batucada? / Nas rodas de malandro, minhas preferidas / Eu digo é mesmo eu te amo e nunca I love you / Enquanto houver Brasil, na hora da comida / Eu sou do camarão ensopadinho com chuchu”.

O camarão ensopadinho com chuchu desfruta de largo prestígio no Rio, mas nem tanto em outras cidades do País. Muitas pessoas são preconceituosas com um dos seus ingredientes. Desprezam o chuchu. Alegam “não ter gosto de nada”. Pura injustiça! O sabor suave desse fruto de uma trepadeira herbácea, que muitos consideram legume, não é defeito, mas virtude.

Serve para ser harmonizado com diferentes alimentos. O chuchu vai bem em saladas, conservas e suflês; fica apetitoso quando recheado com picadinho ou queijo minas; é ótimo misturado à carne moída; faz sucesso gratinado ou à milanesa; dá consistência à goiabada, graças ao seu alto teor de pectina.

Dois anos atrás, a chef Roberta Sudbrack lançou o livro de receitas Eu Sou do Camarão Ensopadinho com Chuchu (Ed. Tapioca). Entretanto, só explicou em um rodapé diminuto de onde saiu o título. O leitor que folheia o livro, esperando uma retumbante homenagem a Carmen Miranda, fica decepcionado. Nas últimas páginas, porém, Roberta Sudbrack faz uma ótima interpretação da receita do camarão com chuchu, prato saudado pela chef como “clássico carioca”.

Se bem que não se trata de uma exclusividade do Brasil. Na América Central há uma receita de camarones con chayotes, assemelhada ao nosso camarão com chuchu.

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Por sinal, o chuchu também não é nativo do nosso país. Originou-se justamente na América Central. O nome veio do francês antilhano chou-chou. Mas acabou “coisa nossa”. Apesar de muitos brasileiros o considerarem insosso, seu nome ganhou novas acepções no vocabulário nacional. Na voz do povo, “chuchu” significa pessoa bonita e querida. “Pra chuchu” é o mesmo que à beça, em grande quantidade.

>>Veja a íntegra da edição do Paladar de 29/1/2015

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