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Comida

Brevidade de araruta (e da vida dos ingredientes)

As brevidades (Foto: Fernando Sciarra)

Fécula de araruta (. Foto: Fernando Sciarra)Foto: Fernando Sciarra)

De repente, as comidas começaram a tomar vida na cozinha de casa de um jeito que eu não esperava. Tarde da noite e cansada, a ideia de uma sopinha de fubá com caldo de carne caseiro – feito a duras penas e economizado para ocasiões especiais (reconfortar, neste caso) – trouxe alívio imediato. Ao diluir o fubá na água, surpresa! Vários bichinhos boiando. Perdi o caldo, perdi a sopa, perdi o apetite. Fui dormir com o estômago roncando.

No dia seguinte, ia tentar alimentar o fermento do pão. Ao pegar o pacote de farinha, mais bichinhos na dobra da embalagem. Lá dentro, uma criação de iscas para pescaria se instalara, à revelia. Que raiva! Lá se foram mais dois sacos de farinha de trigo.

Fora o fato de odiar jogar comida fora, essa coisa de perder o “timing” do ingrediente é sinal de que alguma coisa na vida vai mal. Que talvez você esteja dedicando muito tempo a outras coisas que não a preparar sua própria comida.

Mas a última perda foi a mais desoladora: um pacote de pinoli. Tão caro aqui, tão barato fora, voltei com um carregamento escondido na mala. E até que usei bastante, em muitos pratos, mas novamente no tempo errado. Malditas larvas de paladar apurado comeram tudo antes de mim.

Vi que o jeito era revirar o carrinho de ingredientes, porque não suportaria perder mais nada para “eles”. Foi quando achei dois potinhos e um saco grande de fécula de araruta. Pelas minhas contas, já estavam ali havia quase um ano. E, sei lá por que, passaram incólumes à ação “deles”. Um até tentou entrar no potinho, para armar a revolução dos bichos, mas morreu na tampa.

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Fécula de araruta ( Foto: Fernando Sciarra)

Foi quando lembrei que talvez já fosse hora de desenterrar a araruta, plantada na mesma época, há quase um ano. Ganhei alguns rizomas do seu Eliseu Vaillante, um produtor de Campos dos Goytacazes, no Rio, que vem se dedicando ao resgate dessa cultura. Junto, veio um pacote de fécula – os potinhos vieram de outro produtor, o seu Pedro Cone, de Conceição do Almeida, na Bahia.

Sem espaço para plantar, distribuí a maioria do rizomas. Fiquei só com dois, e os coitados acabaram numa jardineira pequena. Brotaram, cresceram, cresceram, e viraram uma folhagem grande e linda. Mas qual não foi minha decepção, ao desenterrá-los, não encontrar nada além de uma raiz raquítica? Enterrei tudo de novo e continuo regando. (Assim que descobrir o que houve, volto aqui para contar. Se foi só minha inabilidade para a “agricultura” ou, como prefiro acreditar, uma questão de falta de espaço.)

A massa da brevidade ( Foto: Fernando Sciarra)

Tudo isso para dizer que, antes que “eles” dessem conta também da fécula de araruta, tratei de usá-la em duas receitas: uma de biscoito e outra de brevidade, ambas da Neide Rigo. Os biscoitos se desintegraram na fôrma, viraram uma maçaroca só, apesar de terem ficado gostosos. Tive vergonha de submetê-los ao vexame da foto, daí não ter nenhuma imagem deles aqui. Mas as brevidades cresceram e ficaram sequinhas, quebradiças. Não é um bolinho que agrada a todos. Faz o tipo secão, rústico. Mas que são perfeitos para acompanhar um café gostoso e encerrar uma refeição, isto são!

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As brevidades ( Foto: Fernando Sciarra)

A má notícia é que é bem difícil achar araruta por aqui. Quem quiser, pode tentar encomendar com o seu Pedro Cone (0/xx/75/8129-1719).

Brevidades (para 16 bolinhos) 1 ovo 65 g de açúcar (ou 5 colheres rasas de sopa) 65 g de araruta (ou 8 colheres rasas de sopa) manteiga para untar as forminhas

Unte as forminhas com manteiga e reserve. Bata a clara em neve na batedeira, acrescente o açúcar e espere ficar com ponto de suspiro (ele fica bem brilhante). Junte a gema e agora bata até a massa ficar esbranquiçada.

Desligue a batedeira, ponha a araruta e bata por mais 3 a 5 minutos. Espalhe a massa nas forminhas (até metade da altura) e asse em forno preaquecido (a 220ºC) por cerca de meia hora ou até as brevidades ficarem douradas.

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