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Com importação de alimentos proibida, russos passam a fabricar seus próprios queijos

Depois que o embargo a alimentos vindos da Europa e dos Estados Unidos impediu a russa Tatyana Korshunova de comprar seu camembert francês e seu parmesão italiano preferidos, ela decidiu resolver o problema com as próprias mãos: aprenderia a produzir, ela mesma, os queijos que gosta de comer.

Com importação de alimentos proibida, russos passam a fabricar seus próprios queijosFoto:

“Em uma hora, fui capaz de fazer um queijo que era mais fresco e melhor que os existentes no supermercado antes da proibição”, diz Krshunova, enquanto prepara outra rodada de muçarela artesanal na cozinha de seu apartamento. “Muitos dos meus colegas começaram a fazer queijo em casa também”, completa seu marido Andrei, que trabalha como bancário.

Há cerca de 14 meses, o governo da Rússia baniu as importações de alimentos de quase toda a União Europeia e dos Estados Unidos. A medida foi uma resposta às sanções impostas pelo bloco ao país, sob alegação de apoio aos movimentos separatistas na Ucrânia.

Sem conseguir comprar queijos estrangeiros, russos passam a fazer muçarela (foto), ricota, chèvre e até camembert em casa. FOTOS: Vasily Maximov/AFP

Das maçãs polacas ao pecorino italiano, todos começaram a desaparecer das prateleiras. O interesse da classe média em buscar outras formas de satisfazer seus desejos e aprender a produzir queijos artesanais cresceu bastante, na medida em que as pessoas sentiam falta das iguarias.

A ex-consultora bancária Valéria Opanasyuk, 25 anos, decidiu aproveitar a oportunidade para lançar uma empresa que vende utensílios para produzir queijos em casa. Com cerca de U$ 40, é possível comprar, em sua loja online, termômetros, peneiras e bombas necessárias para produzir muçarela e chèvre. “Em poucas semanas, os iniciantes já estão aptos a adquirir e a usar o equipamento especial para fazer seu próprio camembert”, observa. Mesmo sem a certeza se a iniciativa daria certo, Valéria lançou o projeto em janeiro deste ano e, desde então, vê suas vendas crescerem cerca de 25% a cada mês. “Os russos estão descobrindo que produzir queijo de cabra ou ricota em casa é mais fácil que montar conservas de picles.”

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O aumento de aficionados por queijos na Rússia é um fenômeno relativamente novo em um país de curta história de produção desse tipo de alimento. A antiga União Soviética possuía apenas algumas marcas de queijos amarelos e sem graça. O amor pelo “fromage” estrangeiro só foi se popularizar com o fim da Guerra Fria. Em 2013, ano anterior à imposição do embargo, o país importou perto de 500 mil toneladas do produto europeu, de acordo com a União Nacional de Produtores de Leite.

Com o intuito de substituir os queijos estrangeiros banidos, o governo russo tenta ampliar a produção local do alimento através de investimentos no setor – que cresceu 25% este ano. Cheddar, muçarela e ricota fabricados na Rússia estão por toda parte nas seções lácteas dos supermercados. No entanto, a produção de queijos- capazes de substituir os importados, principalmente na qualidade – ainda não alcançou um ritmo certeiro e atrai poucos consumidores de paladar apurado. O serviço russo de proteção ao consumidor constatou ainda que 80% do queijos locais são fabricados com óleo vegetal, item que não é aceito pelas regras nacionais de saúde.

Valéria Opanasyuk vende kits para o preparo caseiro de queijos. Na foto, ela prepara muçarela

Produção restrita. Com a economia em recessão causada pelo baixo preço do petróleo e pelas sanções impostas pelo Ocidente, a produção doméstica de queijos na Rússia é privilégio de uma pequena e privilegiada elite urbana.

Antes executiva de bancos, Olga Lazreva agora organiza workshops de fabricação de queijos em Moscou. Ela conta que a maioria de seu público é composta por profissionais graduados, como engenheiros, professores universitários e programadores, que tentam contornar o embargo. “Milhares de russos descobriram que eram dependentes de queijos europeus. Eles perderam o acesso a esses produtos e estão buscando uma forma de substitui-los”, afirma.

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Hoje, com poucos sinais de que as sanções ocidentais ao país e o embargo do governo russo podem ser suspensos, a população começa a aceitar que pode precisar produzir queijos em larga escala por um longo período. Para pessoas como Yulia Lysikova, cujo centro de treinamento ensina a como fazer mais de 20 tipos de queijo, isso indica que o número de clientes já começou a decolar. “Os amantes de queijo do país entenderam que agora só podem contar com eles mesmos”, diz.

/ AFP

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