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Comida

De enrubescer até Mané Pelado

Por Dias Lopes

De enrubescer até Mané PeladoFoto:

Se há um doce que não pode faltar nas festas juninas de Minas Gerais e Goiás é o bolo mané pelado. O nome curioso homenageia um agricultor imaginário que, por superstição ou exibicionismo, colhia mandioca pelado. Freud explica. Feito com mandioca ralada, queijo coalho e canastra, açúcar, manteiga, erva-doce, leite de coco e de vaca, o mané pelado é um puro-sangue brasileiro. Pelos seus ingredientes, técnica de preparo e modo de servir, virou atração da doçaria nas regiões Sudeste e Centro Oeste.

Bolo leva mandioca ralada, que era colhida pelo Mané (Divulgação)

Quando esteve em Goiás para rodar Araguaia, novela das seis da Rede Globo, a atriz carioca Cleo Pires se apaixonou pelo bolo. “Tive uma vizinha chamada Sandra que aparecia com uma bandeja rasa de fatias de mané pelado”, conta. “Hum… Como foi difícil manter a forma!” A maneira de oferecer é aquela: cortado em pedaços. Toda festa junina mineira tem a “barraca de fatia”, como se diz por lá, que vende bolos cortados em tabuleiro. Um deles é o mané pelado. A cozinha brasileira tem muitas receitas de nomes esquisitos. Pela impossibilidade de lembrar de todas, citaremos algumas. Também serão excluídas as que já consideramos “normais”: bobó de camarão, bombom de cupuaçu e moqueca de pirarucu (o prato saiu do cardápio de bordo da TAP quando uma aeromoça, após informar ao passageiro o que ele comeria, levou um tapa na cara, ora pois!). O acervo rico de Minas Gerais começa com a vaca atolada (ensopado de costela bovina com mandioca em pedaços) e termina no caldo de pinto (sopa de frango com mandioca). Goiás faz arroz de puta pobre (à base de sobras de comida) e de rica (frango, linguiça calabresa defumada, carne de sol, costelinha de porco, bacon, ervilha, milho verde, palmito, azeitona e uva passa). Ali e no vizinho Mato Grosso ainda se harmoniza arroz com guariroba (o palmito amargo, nada a ver com a corruptela de gororoba, até porque é bastante saboroso). No Mato Grosso do Sul existe furrundum (doce de cidra ou mamão verde com gengibre e rapadura, não a dança roceira). Os habitantes do Maranhão preparam arroz de cuxá (cozido em água e sal, temperado com gergelim, acrescido de cuxá, a mesma vinagreira ou azedinha). A Bahia vai de efó (esparregado de folhas de língua-de-vaca, camarão seco, amendoim, castanha de caju, leite de coco, azeites de coco e dendê, cebola, alho, coentro e pimenta) e faz conserva de bilimbi ou biri-biri (fruta provavelmente de origem indiana). No Pará, há a mojica de aviú (mingau engrossado lentamente e acrescido de microcamarão fluvial). Em São Paulo, os vale-paraibanos adoram jacuba (papa de milho com café e rapadura). No Paraná, em Santa Cataria e no Rio Grande do Sul, frita-se cueca virada (massinha retorcida polvilhada com açúcar e canela). Enfim, saboreia-se pelo Brasil afora a roupa velha (sobras de carne assada ou cozida, desfiadas e misturadas com farinha de mandioca, cebola e ovo). É receita de ascendência portuguesa, da região do Entre Douro e Minho, onde leva os restos do bacalhau da Consoada, a ceia da noite de Natal! Em nomes irreverentes, o Brasil talvez só perca para Portugal. O povo lusitano é craque na cabidela chamada de arroz de pica no chão (a galinha criada solta que bica no quintal). Também aprecia a sopa de grelos (inflorescência da couve ou nabo). Para completar, batiza a salada de bacalhau cru e desfiado, com cebola, alho, azeitona, pimenta e azeite, com a palavra chula empregada para designar o onanismo. O povo de Salvador imitou, dando o mesmo nome a um bolinho de tapioca, leite de coco e açúcar. Se tivesse existido, o agricultor Mané Pelado ficaria enrubescido.

Receita – Bolo mané pelado

8-10 porções; 1h de preparo; fácil

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Ingredientes 1 colher (sopa) de manteiga; 1 xícara (chá) de açúcar; 2 ovos grandes; 1/2 kg de mandioca crua ralada; 50g de coco ralado; 100g de queijo canastra ralado; 1 e 1/2 a 2 copos de leite aproximadamente (350 ml); sementinhas de erva-doce a gosto (opcional); 1 pitada de sal; manteiga para untar e farinha de trigo para polvilhar o tabuleiro

Preparo Em uma tigela, misture a manteiga, o açúcar e os ovos. Junte a mandioca, o coco, o queijo, o leite, a erva-doce, a pitada de sal e continue misturando, até obter uma massa de textura mole. Se a massa ficar dura, adicione mais um pouco de leite. Despeje a massa em um tabuleiro untado e enfarinhado e asse em forno médio (180°C) preaquecido, por aproximadamente de 45 minutos. Corte em fatias e sirva morno ou frio, no próprio tabuleiro.

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