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Enfeite com dois mochis é a árvore de Natal japonesa

Por Mari Hirata, que é chef e vive em Tóquio

Enfeite com dois mochis é a árvore de Natal japonesaFoto:

Nas festividades japonesas dois elementos não podem faltar, o saquê e o mochi. E ambos estão ligados ao arroz. No Japão antigo, o arroz significava tudo: vida, religião, dinheiro, arte. Ainda hoje essa cultura continua muito forte e perpetuada em ritos e ornamentos, mesmo por gerações que nem conhecem mais seu exato significado.

FOTO: Alex Silva/Estadão

Na história do Japão, o arroz é insubstituível. Os japoneses inventaram os arrozais alagados e em terraços, para melhor aproveitamento do terreno montanhoso, o que resultou nesse arroz doce, com mais amido e proteína, hoje considerado o melhor do mundo. E ainda hoje o calendário anual corresponde às estações da cultura do arroz – o ano fiscal, a fábrica ou o ano letivo, tudo se inicia com o plantar do arroz, entre fim de março e começo de abril.

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Do arroz, nada se desperdiça, do farelo para o nukazuke (picles de legumes), ao saquê (álcool de arroz), o mirin (tempero doce feito com a borra do saquê), o missô (a pasta de soja com o arroz fermentado), o shoyu (o molho de soja com o arroz fermentado) até o açúcar de arroz chamado de komeame.

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No fim do ano, quando os trabalhos nos arrozais diminuem, o arroz passa a fazer parte das preparações para as festividades. Com sua palha se fabricam cordões e nós para enfeitar casas, ruas e templos, representando os laços de amizade e familiares. Com os grãos se fazem os mochis, bolinhos de diferentes formas, que são colocados para secar. Durante o inverno, os bolinhos são grelhados e consumidos nas refeições.

O mochi serve para as preparações salgadas e doces. E, apesar de atualmente ser consumido quase o ano todo, o consumo cresce no fim do ano. Para que o bolinho se conserve bem, o ideal é cozinhar o arroz no vapor – assim ele absorve menos água – e depois pilar, transformando-o numa pasta lisa, espessa, que deve ser moldada ainda quente, pois endurece rapidamente. Hoje existem máquinas caseiras de fazer mochi (parecem um pouco com a máquina de pão, basta colocar o arroz cru lavado e, uma hora depois, está pronto para virar bolinho).

Em dezembro, os mochis são usados como ornamento de Natal em uma composição chamada kagami mochi. Ela remete a um espelho sagrado do xintoísmo, e acredita-se que, ao moldar o mochi assim, se aprisiona no bolinho o espírito sagrado do arroz, que protegerá a casa. O kagami mochi é feito com dois bolinhos, um grande e um menor, empilhados. Sobre eles vai uma laranja chamada daidai. Cada um tem um significado. O mochi grande é o passado; o menor é o futuro. A laranjinha daidai quer dizer – literalmente – geração após geração.

Essa é a árvore de Natal japonesa. Enfeita o lugar principal da casa até o dia 11 de janeiro. Nesse dia, com um martelo de madeira, quebram-se os motis na cerimônia de kagami-biraki. Aliás, importante: não se corta o kagami mochi com faca, pois isso rompe laços. Os pedaços de bolinho são servidos em uma sopa (ozouni), em compota quente de doce de feijão (ozenzai), ou fritos salpicados com sal ou shoyu.

>>Veja a íntegra da edição do Paladar de 1/1/2015

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