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Comida

Escandinávia domina o Bocuse d’Or: confira os vencedores da copa da gastronomia

Dinamarca vence a disputa mundial realizada em Lyon, na França; equipe brasileira fica com o 23º lugar

O time brasileiro no Bocuse d'Or 2019: o chef Luiz Filipe Souza e o cumim Vinicius Pires. Foto: Vincent Poillet/Apex-BrasilFoto: Vincent Poillet/Apex-Brasil

A Dinamarca, sob a liderança do chef Kenneth Toft-Hansen, venceu o Bocuse d’Or 2019. O evento, que acontece a cada dois anos, em Lyon, na França, é considerado a Copa do Mundo da gastronomia. Na segunda posição ficou a equipe da Suécia e, em terceiro, a da Noruega. O Brasil terminou em 23º. 

O resultado confirmou o bom momento dos países nórdicos na gastronomia mundial. O concurso contou com 24 chefs de nacionalidades diferentes, escolhidos após 18 meses de etapas seletivas em 63 países. Os países com mais vitórias são França (7 medalhas de ouro) e Noruega (5 medalhas de ouro). Os Estados Unidos foram os campeões em 2017.

O time brasileiro, composto pelo chef Luiz Filipe Souza; o cumim Vinicius Pires; e o técnico Renato Carioni competiu no primeiro dia do evento. A tarefa foi preparar um chartreuse de vegetais com mariscos e um carré de vitelo assado, à moda antiga, sem o uso de tecnologias modernas de cozimento. Os pratos foram entregues dentro do tempo estipulado de prova, que era de 5h35 minutos.

A chartreuse foi um desafio delicado para todos os participantes. Trata-se de uma receita do século 18, criada para driblar uma regra religiosa que obrigava os monges franceses a serem vegetarianos. De acordo com as lendas que envolvem o prato, os monges escondiam pedaços de carne no interior de uma espécie de terrine coberta por vegetais - e assim nascia o chartreuse. Por se tratar de uma receita praticamente esquecida e pouco usual as equipes tiveram que se aprofundar em pesquisas e reinvenções. 

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O time brasileiro no Bocuse d'Or 2019: o chef Luiz Filipe Souza e o cumim Vinicius Pires. Foto: Vincent Poillet/Apex-Brasil

Um dos momentos mais curiosos do evento aconteceu quando a chartreuse francesa foi apresentada ao júri. O público se levantou e começou a cantar a Marselhesa. O hino francês acompanhou toda a exibição. 

No caso do Brasil, foi o carré que causou a melhor impressão em quem estava acompanhando a prova - a peça tinha como inspiração uma tatuagem indígena de Pires, o cumim.

O ponto da carne foi um problema para vários países. Campeões da edição passada, os americanos, por exemplo, tiveram dificuldades com ela e ficaram em 9º lugar.

Prato de carré apresentado pela equipe brasileira no Bocuse d'Or, a Copa do Mundo da gastronomia. Foto: Vincent Poillet/Apex-Brasil

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A tensão da competição 

Para quem acompanha de fora, é difícil desvendar o que se passa na cabeça de um jurado durante a degustação. Na maioria das vezes, eles permanecem impassíveis. Vez ou outra, conversam com colegas e tiram fotos dos pratos. 

Apesar do nervosismo e das noites mal-dormidas em Lyon, o time brasileiro, que treinou para a última etapa do Bocuse por cerca de 10 horas por dia desde o mês de setembro, considerou a performance no box da competição como a sua melhor. “Foi tudo dentro do tempo, tudo ritmado. Estou muito orgulhoso do que foi apresentado aqui”, disse Carioni.

Antes do início da prova, o chef e o cumim brasileiros passaram mal nos bastidores. A tensão fez com que os dois tivessem dor de estômago. Pires chegou a vomitar momentos antes de entrar no box. “Mas quando a gente entrou no palco da competição, tudo melhorou. Esquecemos a dor de estômago e o nervosismo. Fizemos tudo do jeito que foi treinado”, disse Souza. 

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Ainda por conta do nervosismo, o time esqueceu uma madeira para defumação na casa em que estava hospedado. Felizmente, houve tempo suficiente para buscá-la. Outra dificuldade foi a troca do fornecedor de carne na véspera do evento. “Não era igual. As que foram usadas nos treinamentos, mesmo aqui em Lyon, eram melhores. Mas contornamos essa questão”, afirmou Carioni.

O fim do primeiro dia de prova (quando o Brasil competiu) foi de muito emoção. O choro do chef e seu assistente era uma mistura de tensão represada e sentimento de missão cumprida. O time brasileiro competiu com faixas pretas no braço em homenagem às vítimas da tragédia de Brumadinho (MG). “O que aconteceu não pode ser esquecido”, comentou Souza. “Pensamos muito nisso durante todos os nossos dias aqui”.

Durante todo o Bocuse D’Or, torcidas do mundo inteiro apoiaram seus times - com um clima que lembrou bastante competições esportivas, como a Copa do Mundo. No segundo dia de provas, os fãs de França (donos da casa) e Japão impressionaram pelas coreografias e cantos.

Um dos destaques do Bocuse D’Or foi a presença da brasileira Giovanna Grossi no júri da competição. A alagoana era a única mulher entre os 24 juízes (e também única presidente de comitê). Não à toa, foi uma das mais aplaudidas ao ser anunciada. Giovanna representou o Brasil como chef na edição passada, em 2017, e ficou na 15ª posição.

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A melhor colocação de um brasileiro na competição foi a do chef Antonio Francisco “Naim” dos Santos, que obteve o 10º lugar, em 1997.

 

Chef brasileiro 

A relação de Luiz Filipe Souza com o Bocuse D'Or vem de longe. Em 2015, ele participou da seletiva brasileira do concurso (que foi vencida por Giovanna Grossi). Dois anos depois, para chegar até a final em Lyon, Souza precisou vencer a etapa brasileira, o que aconteceu em março de 2018. Depois, ficou na 5º colocação na etapa continental do concurso, no México. Isso sem descuidar do restaurante que comanda, o Evvai.

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O principal objetivo do time brasileiro era ficar entre os dez primeiros. Apesar da colocação não ter sido a almejada, o Brasil iniciou uma jornada, um consistente trabalho, a caminho das próximas edições do Bocuse D’Or. “Essa é uma competição que exige muito investimento. As três primeiras colocadas se dedicam inteiramente ao concurso. Espero que a gente tenha aberto um caminho, que daqui há dois anos outro chef, uma nova geração, tenha mais possibilidades. No fim, foi uma experiência incrível para todos nós”, disse.

Alguns países contam com apoio estatal e orçamentos que ultrapassam US$ 1 milhão. Parte das equipes podem, por exemplo, viajar para Lyon com meses de antecedência, treinar com produtos locais ou fechar restaurantes inteiros apenas para treinar. A equipe da Suécia, segunda colocada, foi prestigiada pelo príncipe Carlos Filipe Edmund Bertil, que acompanhou o evento.

Já o time brasileiro viajou apenas no último dia 20 e contou apenas com as próprias forças e com a ajuda de alguns apoiadores (que doam materiais para o treinamento e passagens aéreas, por exemplo).

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