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Comida

Inseto na boca

Inseto na boca. Pausa.

Inseto na bocaFoto:

Para esta repórter, a primeira imagem não é a de fogueira, de panela de barro ou o crec-crec da mordida nas feiras de rua tailandesas, chinesas e africanas. Lembro-me bem de dois estrangeiros, Anissa Helou (escritora libanesa) e Maurizio Remmert (gourmet e empresário italiano que vive em São Paulo), mordiscando as içás (fêmeas da saúva) e as formigas maniwaras trazidas na bagagem de Dona Brazi durante o Paladar – Cozinha do Brasil, em 2009. Mordiscaram e engasgaram, tossindo. Era picante, crocante, mas de grotesco não tinha nada. Não era indigesto, era… diferente. Lembro também do prazer com que gente do interior de São Paulo come suas içás, como narrou Giovanna Tucci em edição especial do Paladar sobre comida de roça.

Celebrados como comida nutritiva em documentários e programas de TV, em que apresentadores histéricos fingem estar famintos e sem rumo, eis que os insetos subiram à mesa e pousaram nos pratos. Pelo menos, no dos americanos: a Whole Foods, cadeia de varejo de produtos orgânicos, anunciou nesta semana a adoção de novas diretrizes sobre os insetos à venda nas lojas. Agora, é fundamental que sejam cultivados sob parâmetros “humanitários”, não confinados e livres de ração obrigatória. Estamos falando em ração para abelhas e gafanhotos.

Pousaram também em embalagens de salgadinhos nos supermercados holandeses, duas semanas atrás, as larvas processadas da Sligro, desenvolvidas pelo técnico Johan Van Dongen. Há petiscos de larvas e insetos adultos (gafanhotos, louva-a-deus) com chocolate e pimenta.

Lá fora o assunto é recorrente na imprensa, como se a mudança na dieta ocidental e urbana fosse irreversível. A alta gastronomia parece cortejar a novidade. (Basta citar que Alex Atala é um dos entusiastas da cozinha de base indígena de Dona Brazi). No ano passado, uma reportagem do New York Times presenciou um curso de comida mexicana no Brooklin em que o desafio final era encarar uma tigela de larvinhas e insetos fritos. Em novembro, o Guardian fez um perfil de Marc Dennis, gourmet/entomologista – a reportagem falava também que a ONU, em 2008, promoveu um workshop sobre os benefícios do “cultivo”de insetos e larvas, como fontes limpas, sustentáveis e ricas em proteínas, vitaminas e, mais importante, livres de contaminação bacteriana.

E então, topa encarar uma larva de mariposa?

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