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Movimento obedece o mote 'follow the money’

A geografia é autoexplicativa: basta seguir o caminho da grana. Não à toa, os restaurantes de rua com filiais em shoppings paulistanos seguem o caminho sul do mapa. “É o eixo de expansão do capital, é onde os principais investimentos imobiliários da cidade estão sendo feitos, grandes hotéis construídos, torres de escritórios”, diz José Lira, diretor do Centro de Preservação Cultural da Universidade de São Paulo (USP) e professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU). “Eles estão indo atrás do dinheiro e de uma clientela acostumada a esses espaços controlados”, afirma Lira.

Movimento obedece o mote 'follow the money’Foto:

Uma caminhada à volta do shopping JK Iguatemi, ou uma esticada d’olhos no terraço do Cidade Jardim, comprovam a veloz proliferação imobiliária na região, às margens do Rio Pinheiros. São diversas obras em andamento e quarteirões apinhados de arranha-céus envidraçados.

De uma das varandas do shopping JK, é privilegiada a vista para as ruínas neoclássicas da butique de luxo Daslu, que vai virar um edifício comercial.

ILUSTRAÇÃO: Carlinhos Müller/Estadão

Lira diz não se espantar com a entrada dos restaurantes no barco da retirada da rua – movimento verificado na cidade em diversos ramos comerciais já desde os anos 1980. “É bem sintomático do grau de autossegregação que as pessoas se impõem.”

O enclausuramento promovido por shoppings, condomínios fechados, carros de vidros escuros e por vezes blindados é alvo recorrente da crítica de urbanistas. “O shopping center é uma antítese da cidade. Dá a falsa sensação de segurança”, diz Alexandre Delijaicov, também da FAU/USP. “Não podemos nos enjaular. Viver na cidade é conviver com a diferença, a rua viva, um lugar de encontro. O shopping segrega, cria guetos.”

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Demandas. O movimento dos restaurantes responde a uma demanda de clientes, argumentam os responsáveis pelos empreendimentos.

“Na dimensão do indivíduo é razoável que ele prefira ir comer em um shopping. Ele pode achar mais prático, seguro, confortável, simples. E não é que ele seja elitista ou preconceituoso por ir ao shopping. Estar na rua em São Paulo pode ser uma experiência de desassossego”, pondera Lira.

Nesse sentido, os arrastões em restaurantes no ano passado corroboram a fuga para os corredores protegidos. “Mas não sei até que ponto isso é mais um pânico que se instaurou e faz a população abandonar a rua. Às vezes esses pânicos são desproporcionais.”

“A turma que tem que oportunidade de viajar e ir a Paris come uma salada com grelhadinho na calçada e acha o máximo”, provoca Delijaicov.

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