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Comida

Na natureza selvagem (da Lapa)

Neide Rigo colhendo folhas de curry (Fotos: Que Bicho)


Cúrcuma
Foto:

Por Que Bicho*

Por mais apetitosas que parecessem tantas palestras e workshops do Paladar – Cozinha do Brasil, a atração que mais despertou nossa curiosidade foi justo a que levava a plateia para longe dos salões do Hyatt: uma excursão guiada por Neide Rigo em busca de plantas comestíveis Lapa adentro. Sempre achamos incrível essa disposição da Neide para caçar comida nos lugares mais improváveis e o quanto ela é fonte inesgotável de informação sobre ingredientes. E agora que estamos bem mais caseiros, meio cansados de caçar restaurantes novos, nada mais oportuno que ver a Neide em ação.

E não é que descobrimos que a guia da nossa excursão é ainda mais entusiasmada do que já sabíamos? Cada vez que sacava sua pazinha de jardineiro do embornal vinha uma surpresa.

Cúrcuma  

No meio de uma praça, num pedaço de terra que qualquer desavisado daria por infértil, ela desenterrou cúrcuma suficiente para encher uma sacola inteira.

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Em menos de dois metros de canteiro, colheu um monte de plantinhas comestíveis não domesticadas (barba de falcão, mentruz rasteiro, serralha, trevos, jerivá, beldroega…).

Pendurava-se nos muros para ver o que tinha do outro lado, e sempre dava um jeito de colher pelo menos uma fruta de cada que encontramos pelo caminho (nêspera, tamarindo, jaca), por mais alta que estivesse no galho – com a gentilíssima ajuda do Marcos, seu marido.

Ao ver um pé de limão-cravo apinhado em um quintal, tratou de tocar a campainha pedindo um pouquinho. Em outra casa, angariou folhinhas de louro. Empenhou-se até em amansar o cachorro que latia para nosso grupo. Destemida demais a Neide.

E assim passamos bem umas três horas batendo perna e explorando ruas e praças. “Quanto mais mal-cuidada a calçada, mais a gente encontra preciosidades da flora”, pregava nossa guia. Aos poucos a fome começou a apertar. Em parte porque a Neide ia dando ideias de usos das plantinhas recém-descobertas (“a beldroega fica muito boa na salada, é ácida, crocante”), mas não podíamos prová-las sem higienização decente. Também pela promessa de um pão ao fim da empreitada, trazido pela Neide em sua linda cesta de piquenique.

Pois era só no pão que pensávamos quando a Neide resolveu esticar o passeio até a derradeira praça: “Vocês têm de ver o quanto estão lindas as flores nesse pé de maracujá, topam?”. Alunos aplicados que somos, topamos, claro. Mas naquela altura, cansados e com a barriga roncando, só pensávamos no pão. E num macinho de beldroega já higienizado.

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Já de volta ao Hyatt, pudemos provar o perfumado, coloridíssimo pão de mandioca com cúrcuma, com uma gorda pincelada de manteiga com mentruz rasteiro. Seu sabor caseiro – com retrogosto profundo de doação – nos desmontou.

Mas o fato é que temos muita cúrcuma para desenterrar até conseguirmos acompanhar o pique da danada da Neide.

quebicho.wordpress.com

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