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Comida

O excêntrico doutor Kellogg

Por Dias Lopes

Acidente. Os flocos de milho foram criados sem querer. FOTO: Alex Silva/Estadão. Foto: EstadãoFoto: Estadão

Os norte-americanos relembram em 2013 os 70 anos da morte do dr. John Harvey Kellogg (1852-1943), o médico, nutricionista, pensador, moralista e vegetariano que, assimilando a antiga obsessão norte-americana de associar comida com retidão moral, revolucionou o café da manhã. Junto com o irmão Will Keith Kellogg (1860-1951), ele inventou os corn flakes (flocos de milho), hoje populares no mundo inteiro.

John Kellog dirigia o sanatório Western Health Reform Institute, em Battle Creek, no Michigan, coincidentemente sede mundial da Igreja Adventista do Sétimo Dia. Ali se dedicava “ao tratamento de todo o tipo de doenças”. Entre seus clientes estiveram o presidente Theodore “Teddy” Roosevelt e o magnata e filantropo John Davison Rockefeller.

Segundo a lenda, os flocos de cereais surgiram depois que senhoras internadas no sanatório quebraram as dentaduras mordendo o pão torrado e duro do café da manhã. John Kellogg, que prescrevia aos pacientes uma dieta rica em fibras, começou a pesquisar uma alternativa para o alimento. Mas a encontrou por acaso. Um dia, ele e o irmão quebravam o trigo para uma receita, quando foram chamados e abandonaram a cozinha. Ao voltarem, a massa que ficara nos cilindros da máquina estava seca, transformada em flocos. Mesmo assim, resolveram aproveitá-la. Depois de tostados, os flocos ficaram crocantes. Tinham descoberto um alimento revolucionário para a refeição matinal. Os irmãos decidiram prepará-lo com milho triturado e assim surgiram os corn flakes. John Kellogg disse que teve a inspiração durante um sonho.

Acidente. Os flocos de milho foram criados sem querer. FOTO: Alex Silva/Estadão Foto: Estadão

Infelizmente, ele não soube explorar sua invenção. Em compensação, o irmão Will Kellogg foi clarividente. Apostando no sucesso dos flocos de milho, desligou-se do sanatório em 1906 e fundou a Battle Creek Toasted Corn Flake Company, semente da multinacional norte-americana Kellogg Company, líder mundial em produtos para a refeição matinal, entre os quais os Corn Flakes e os Sucrilhos. O faturamento anual do grupo, presente em 180 países, ultrapassa os 12 bilhões de dólares.

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Ao desenvolver os corn flakes, John Kellogg se revelou genial. Entretanto, era um sujeito esquisito. Por sorte, a maioria dos clientes não levou a sério suas recomendações sobre o comportamento humano. Ele defendia a abstinência sexual. Escreveu até um tratado sobre o tema, durante a própria lua de mel. No sanatório, submetia os pacientes a restrições alimentares e a tratamentos rigorosos de hidroterapias e lavagens intestinais.

Os doentes que precisavam ganhar peso ficavam deitados com um saco de areia sobre a barriga e eram obrigados a ingerir 26 refeições por dia. Os hipertensos comiam apenas uvas, cerca de seis quilos por dia. “Apesar de, ou muito possivelmente, devido a estas peculiaridades, o ‘templo de saúde’ de John Kellogg triunfou, tornando-se um requintado complexo com mordomias de classe alta”, escreveu Bill Bryson no livro Made in América (Bertrand Editora, Lisboa, 2009).

Existem vários cereais matinais, mas os flocos de milho permanecem clássicos. Quase todos são enriquecidos com vitaminas e minerais. Portanto, ficaram mais nutritivos. O problema é que muitos levam uma quantidade excessiva de açúcar, para se tornarem mais apetecíveis às crianças. Isso, John Kellogg abominaria.

>> Veja todas as notícias da edição do Paladar de 4/4/2013

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