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Comida

Riscos e visgos do consumo moderado de jacas

Árvores frondosas, jaqueiras são abundantes nas regiões sul e sudeste da Bahia, sombreando cacaueiros e bois que pastam interminavelmente ao sol. É sabido nas fazendas dos perigos das jacas. O primeiro é gravitacional, dos tiros verticais de canhão natural em quedas livres de frutos que passam dos 30 quilos e despencam de até 25 metros; o segundo, ambiental, já que as temíveis cobras surucucus-pico-de-jaca costumam se camuflar enroladas no próprio corpo entre os frutos no chão, à sombra das copas das árvores, prontas para o bote peçonhento nas canelas dos cavalos e dos homens. E o último, é químico: o resultado da mistura dos bagos com água ou leite, segundo os mais antigos, é letal – estuporava, como diziam, descrevendo sintomas iminentes da morte como um derrame ou uma intensa dor de barriga.

Riscos e visgos do consumo moderado de jacasFoto:

+ Ops! Você já está com a mão na jaca

FOTO: Felipe Rau/Estadão

Ao contrário do que alegarão os detratores, desperdiçando tempo ao imaginar que os perigos mencionados servirão de afronta à jaca, fique claro que nada disso afugentou a fruta das mesas, fosse como sobremesa, in natura (preferencialmente a dura; a mole escorrega goela abaixo com caroço e tudo, num constante exercício de engasgo, além de ser por demais doce), em compotas e picolés, ou acompanhando assados e peixes, cortadas verdes em pedaços miúdos e preparadas com carne-seca ou moída.

Sobrevivi às caças dos frutos, a suas misturas e aos exageros. Não escaparam os canários, anus-pretos e sangues-de-boi, presos no visgo grudento da fruta, colhido pacientemente para montar armadilhas de caça a passarinhos espalhadas, estrategicamente, pela fazenda.

>> Veja todos os textos publicados na edição de 3/1/13 do ‘Paladar’

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