Testamos 10 azeites de supermercado: veja como eles se saíram
Selecionamos azeites extravirgens importados com preços de até R$ 35, reunimos especialistas e avaliamos como andam produtos que fazem parte do nosso dia a dia
16 de novembro de 2016 | 19:27por Ana Paula Boni, O Estado de S.Paulo
Existe uma ampla oferta de azeites nos supermercados paulistanos e não é por acaso – o produto faz parte do dia a dia na cozinha e na mesa. E, apesar de o Brasil já ter uma produção de azeite extravirgem de qualidade notável (porém ainda em pequena escala), os azeites mais consumidos pelos brasileiros (o 11º país entre os maiores consumidores de azeite) vêm da Europa, especialmente de Portugal, Espanha e Itália.
Paladar resolveu avaliar a qualidade dos azeites disponíveis nos supermercados e montou uma cuidadosa estratégia, que começou com a lista de compras e terminou com uma prova às cegas.
A seleção incluiu dez rótulos de nacionalidades variadas, de preços até R$ 35, a maioria entre os mais vendidos em supermercados da cidade. A prova foi feita às cegas, isto é, nenhum dos participantes sabia quais azeites estava provando. O ranking – que avaliou características como aromas, sabores e as sensações de picância e amargor – revelou os melhores azeites nesta ordem: 1º) Deleyda, 2º) Herdade do Esporão, 3º) De Cecco, 4º) Olitalia, 5º) YBarra, 6º) Gallo, 7º) Carbonell, 8º) Borges, 9º) Portucale e 10º) Andorinha. Na galeria de fotos abaixo, você confere as qualidades e/ou os defeitos de cada um.
Os melhores e piores azeites de até R$ 35
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Foto: Daniel Teixeira/Estadão
O ranking dos azeites
O Paladar avaliou, ao lado de especialistas, dez azeites extravirgens importados com preços de até R$ 35. As marcas escolhidas para participar da degustação às cegas estão entre as mais vendidas em supermercados do País. Foram avaliadas características como aromas, sabores e as sensações de picância e amargor. Confira a classificação - e as qualidades e defeitos de cada rótulo - nas fotos a seguir.
Foto: Daniel Teixeira/Estadão
10º - ANDORINHA
Aroma artificial que lembra essência, tem uma nota doce de coisa madura demais, passada. Parece blend de mais de um azeite ou produto velho. Ruim. Origem: Portugal; embalado em agosto de 2016. Preço: R$ 24,30 (500 ml, na Casa Santa Luzia). Bico: retrátil, não deixa vazar pela borda; fluxo de fraco a médio.
Foto: Daniel Teixeira/Estadão
9º - PORTUCALE
Nota aromática de fermentação, que é um defeito; pouca intensidade tanto de picância quanto de amargor resulta em um azeite “plano”, excessivamente suave. Origem: Portugal; envasado em março de 2016. Preço: R$ 29,25 (500 ml, no Pão de Açúcar). Bico: retrátil, não deixa vazar pela borda; fluxo de fraco a médio.
Foto: Daniel Teixeira/Estadão
8º - BORGES
Nota metálica, defeito que pode ter sido originado em equipamentos; é apenas picante, sem conter amargor ou aromas e sabores de fruta. Origem: Espanha; produzido em agosto de 2016. Preço: R$ 17,75 (500 ml, no Extra). Bico: não é retrátil, mas é duplo, com saídas para fluxo forte e fluxo fraco; não deixa vazar.
Foto: Daniel Teixeira/Estadão
7º - CARBONELL
Um azeite doce, parece fermentado, o que é um defeito de aroma; na boca, tem nota láctea e de ranço, desagradáveis; amargor alto. Origem: Espanha; envasado em maio de 2016. Preço: R$ 29 (500 ml, na Casa Santa Luzia). Bico: retrátil, não deixa vazar pela borda; fluxo de fraco a médio.
Foto: Daniel Teixeira/Estadão
6º - GALLO
Não é ruim no nariz, com notas maduras agradáveis, que lembram tomate; mas na boca tem picância muito perceptível e alta adstringência, com residual amargo. Origem: Portugal; fabricado em julho de 2016. Preço: R$ 25,69 (500 ml, no St Marche). Bico: retrátil, não deixa vazar pela borda; fluxo médio.
Foto: Daniel Teixeira/Estadão
5º - YBARRA
Promete no nariz algo que não entrega à boca; notas leves de ranço, um defeito; é um azeite “plano”, sem personalidade. Origem: Espanha; envasado em fevereiro de 2016. Preço: R$ 21,90 (500 ml, no Pão de Açúcar). Bico: retrátil, não deixa vazar pela borda; fluxo médio.
Foto: Daniel Teixeira/Estadão
4º - OLITALIA
Toque de amargor e picância, é um azeite arredondado; tem aroma adocicado, mas não chega a ser desagradável ou enjoativo. Origem: Itália; envasado em agosto de 2016. Preço: R$ 19,90 (500 ml, no Empório Santa Maria). Bico: retrátil, não deixa vazar pela borda; fluxo forte.
Foto: Daniel Teixeira/Estadão
3º - DE CECCO
Notas herbáceas aparecem no nariz, parece fresco, não tem aromas de defeito; na boca, a picância mais alta do que o amargor faz dele um azeite interessante. Origem: Itália; envasado em julho de 2016. Preço: R$ 30,60 (500 ml, na Casa Santa Luzia). Bico: não é retrátil, mas não deixa vazar pela borda; fluxo forte.
Foto: Daniel Teixeira/Estadão
2º - HERDADE DO ESPORÃO
Bem equilibrado, de picância leve, tem notas herbáceas (lembra grama recém-cortada no nariz), remete a alcachofra; sabor persistente. Origem: Portugal; envasado em agosto de 2016. Preço: R$ 30,10 (500 ml, na Casa Santa Luzia). Bico: não é retrátil, mas não deixa vazar pela borda; fluxo médio.
Foto: Daniel Teixeira/Estadão
1º - DELEYDA
Campestre, tem o herbáceo bem marcado, notas de azeite fresco; na boca, lembra tomate, tem sabor; bom equilíbrio entre picância e amargor; um azeite com personalidade. Origem: Chile; fabricado em agosto de 2016. Preço: R$ 33,50 (500 ml, no Pão de Açúcar). Bico: não é retrátil, mas não deixa vazar pela borda; fluxo médio.
Foto: Ana Paula Boni/Estadão
Como foi a degustação
Para entender como foi feita a degustação e saber mais sobre o mercado de azeites no Brasil, leia a reportagem completa aqui.
O grupo de degustação reuniu dois profissionais, o degustador de azeites Paulo Freitas e o empresário Arnaldo Comin (dono da Rua do Alecrim, empório especializado em azeites brasileiros), além do chef espanhol Oscar Bosch, do restaurante Tanit, a editora do Paladar, Patrícia Ferraz, a colunista de vinhos Isabelle Moreira Lima e a repórter Renata Mesquita.
A avaliação confirmou a tese de que os azeites envasados pelo próprio produtor (caso de Deleyda e Herdade) saem-se melhor porque, com curto intervalo entre colheita e processamento, correm menos risco de serem adulterados, diz Paulo Freitas. Além disso, as empresas que só são envasadoras compram azeite de vários produtores e podem fazer blends, além de poderem envasar azeites já velhos (e quanto mais jovem o azeite, melhor).
A legislação brasileira não ajuda, já que não obriga a indicação da safra no rótulo – só a data de envase e validade. Assim, o envasador indica que o produto foi engarrafado em agosto deste ano, por exemplo, mas não quer dizer que tenha sido colhido na última safra. Na Europa, onde estão os maiores produtores de azeite do mundo (o primeiro é a Espanha), a safra de azeitonas vai de outubro a novembro; já no Brasil, a colheita é de março a abril.
Foto: Daniel Teixeira|Estadão
Os copos usados na degustação de azeites são azuis, para a cor de cada marca não influenciar os participantes da prova. Foto: Ana Paula Boni|Estadão
Muito além da acidez – que deve ser de até 0,5% nos azeites extravirgens e que por anos guiou consumidores em busca de “bons” azeites – outros atributos definem a qualidade: aromas e sabores (notas de frutas, legumes e ervas, como tomate, maçã, lavanda), picância (não o ardor típico da pimenta, mas a picância que pega no fundo da garganta) e amargor (sim, todo azeite extravirgem deve ter um toque amargo; é a adstringência trazida pela presença de polifenóis).
São esses atributos que vão guiar a harmonização de um azeite com pratos. Não adianta querer colocar azeite suave em um prato muito condimentado. “Pratos como paella e moqueca pedem azeite intenso, com pungência. Já uma salada leve vai bem com um azeite pouco amargo e pouco picante”, diz Paulo.
Azeite: atributos positivos e negativos
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Foto: Marcelo del Pozo/Reuters
Os sabores do azeite
Quais características fazem do azeite um bom azeite? Alguns aromas, sabores e sensações apontam o caminho do que é bom e do que é ruim. Notas de tomate, maçã-verde e lavanda que aparecem tanto no nariz quanto na boca, por exemplo, são atributos positivos. Já notas metálicas, de bolor e de ranço vão estragar o seu apetite. Além disso, um bom azeite extravirgem deve trazer à boca sensação de picância (não ardência) e de amargor (adstringência, que limpa o paladar). Confira a seguir como desvendar um azeite e harmonizá-lo melhor com pratos.
Foto: Enny Nuraheni/Reuters
Atributo positivo: picância
A sensação de picância na boca é algo a se procurar num azeite extravirgem. Não é aquela picância da pimenta, que arde a boca, mas a que pega no fundo da garganta, uma pungência. Em maior ou menor intensidade, vai definir a personalidade do azeite e prepará-lo para harmonizar com pratos mais ou menos intensos.
Foto: Edgard Garrido/Reuters
Atributo positivo: amargor
O amargor à boca também é algo a ser buscado num bom azeite, assim como a picância, em menor ou maior escala de acordo com o tipo de azeite que se quer. O amargor é a revelação da presença de polifenóis, uma coisa positiva. São esses polifenóis que dão adstringência, ou sensação de limpeza da boca. Azeite bom limpa a boca. Mas não queira usar um azeite com alta intensidade de amargor num prato leve: ele vai melhor com pratos mais intensos e condimentados também.
Foto: Niels Ackermann/The New York Times
Atributos positivos: notas herbáceas
São aromas ou sabores de rama de tomate, ervas, urtiga, maçã verde, kiwi, feijão verde, folha de figo. Pode vir à mente também grama recém-cortada. É atributo positivo de azeite bem fresco, mas também há azeites jovens que, de acordo com o tipo de azeitona, remetem a frutas maduras e não a herbáceos.