Aprenda mais sobre pancs, plantas alimentícias não convencionais, com a nutricionista Neide Rigo. Conheça algumas delas e saiba onde usá-las
04 de agosto de 2016 | 20:43por Renata Mesquita, O Estado de S.Paulo
Panc é uma sigla para plantas alimentícias não convencionais, termo cunhado pelos pesquisadores Valdely Kinupp e Harri Lorenzi, que catalogaram parte delas no livro Plantas Alimentícias Não Convencionais no Brasil (editora Plantarum).
Na página do Estadão no Facebook, a nutricionista e colunista do Paladar Neide Rigo falou ao vivo sobre o imenso universo das pancs.
Neide explica que "panc" não é um nome de batismo, nem uma categoria em que as plantas se enquadram para sempre, nem mesmo vale para todo o território nacional. Uma planta pode ser uma panc em São Paulo mas não na Caatinga, onde é consumida habitualmente.
Podem ser sementes, castanhas, raízes, folhas e até frutos que não sejam convencionais para aquele grupo, como o umbu, que na Caatinga é amplamente consumido, mas por São Paulo é considerado uma panc. Mesmo estágios de maturação podem ser diferenciais para a classificação: a banana verde, por exemplo, é considerada panc por Valdely em seu livro. O ponto é: a planta não é facilmente encontrada em mercado usuais em determinada região.
Foto: Tadeu Brunelli|Estadão
No seu blog, o come-se (que em 2016 fez 10 anos no ar), Neide explora o universo das plantas comestíveis não convencionais desde antes de o termo panc ser inventado. Ela estuda essas plantas e sugere receitas de como prepará-las. Para a banana verde, por exemplo, Neide foge da biomassa e recomenda o preparo de um macarrão: corte o fruto em fatias bem fininhas, afervente na água com limão e sirva com o molho de sua preferência. Ela conta que costuma preparar o seu acompanhado de anchovas e farofinha de pão, como ensinado na receita da coluna Prato do Dia, da editora do Paladar, Patricia Ferraz.
Mas e como preparar pancs na cozinha? Neide dá a diga: faça o mesmo que faria com o similar convencional. Parece uma batata? Cozinhe como tal. Parece espinafre? Prepare uma salada ou um refogado. O livro de Valdely também ajuda nessas horas: para cada ingrediente catalogado, o autor ensina três preparos diferentes.
Conheça as pancs - plantas alimentícias não convencionais
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Foto: Neide Rigo/Estadão
Pancs - plantas alimentícias não convencionais
Com certeza você passa por uma todo dia e nem se dá conta. As plantas alimentícias não convencionais (pancs) estão por toda a parte - e deveriam estar no seu prato também. Conheça 14 espécies. E clique aqui para saber mais sobre pancs.
Foto: Tadeu Brunelli/Estadão
Peixinho
Não é pescado, é plantado mesmo. A folha, cheia de pelinhos, ganhou o nome por conta do seu formato. Também conhecido como lambari-da-horta, é usado para chás e empanado, como aperitivo. Vai bem em climas secos.
Foto: Tadeu Brunelli/Estadão
Espinafre malabar
Espécie que rende, além das folhas, frutinhos de pigmento roxo intenso.
Foto: Tadeu Brunelli/Estadão
Maracujá-do-mato
Menor que o maracujá comum e de casca mais alaranjada, ele tem aroma e sabor um pouco mais adocicado. Tem sido reconhecida como produto de forte identidade cultural com o bioma Caatinga. Dá suco, geleia, doce e até molho para carnes. Saiba mais.
Foto: Tadeu Brunelli/Estadão
Beldroega
Ácida e crocante, vai muito bem na salada. Também pode ser consumida refogada no óleo ou na banha com alho e cebola (depois de cozida, lembra um pouco o espinafre, só que mais suave). Às vezes é chamada de ora-pro-nobis (até por Guimarães Rosa), mas, apesar de as duas folhas guardarem semelhanças entre si, são espécies totalmente diferentes.
Foto: Tadeu Brunelli/Estadão
Ora-pro-nóbis
Em Minas, essa planta não tem nada de "não convencional". É muito usada em refogados e como acompanhamento. Suas folhas são gostosas, nutritivas e fartas.Os brotos e o fruto também são comestíveis. Saiba mais.
Foto: Tadeu Brunelli/Estadão
Feijão guandu
De origem indiana, chegou ao Brasil com os mercadores de escravos e hoje é considerada uma aliada na agricultura. Além de fixar nitrogênio no solo, como qualquer outra leguminosa, funciona como arado vegetal, pois suas raízes conseguem penetrar a terra dura em busca de água, tornando-a mais permeável. Além de o guandu ser uma planta rústica, que permanece verde mesmo na seca, suas folhas servem de adubo para solos pobres. E as flores são lindas, perfumadas e melíferas. Vai bem com temperos fortes como bacon, cominho, pimentas e ervas. Saiba mais.
Foto: Tadeu Brunelli/Estadão
Capuchinha
As flores, amarelas, vermelhas ou laranjas, são comestíveis, assim como as folhas, que são ótimas verduras, nutritivas e com gostinho de agrião.
Foto: Tadeu Brunelli/Estadão
Azedinha vermelha
As folhas, como denuncia o nome, são azedinhas e podem ser usadas em saladas cruas, como verdura salteada, em sopas e omeletes.
Foto: Tadeu Brunelli/Estadão
Trevo
Esse é o de três folhas. Considerado por muitos uma erva-daninha, nasce à toa por vasos, jardineiras, quintais e calçadas. É tão banal que muitos nem se questionam se é uma planta comestível. Folhas, talos e bulbilhos podem ser comidos. É uma planta rica em ácido oxálico, por isto não deve ser comida em grande quantidade.
Foto: Tadeu Brunelli/Estadão
Cará-espinho
Trepadeira muito vigorosa, seus tubérculos são enormes, podendo chegar até 150 kg. Eles podem ser usados como batatas para produção de purês, caldos e chips.
Foto: Tadeu Brunelli/Estadão
Caruru
Nativa da América Latina, ocorre em grande quantidade no Sul e Sudeste do Brasil. É considerada planta daninha em lavouras anuais. Suas folhas e sementes são comestíveis, especialmente como refogados.
Foto: Tadeu Brunelli/Estadão
Serralha
Também conhecida como chicória-brava, é muito comum em lavouras e ambientes urbanos - cresce espontaneamente durante o inverno e a primavera. Com sabor similar ao espinafre, pode ser usada em saladas e refogados.
Foto: Tadeu Brunelli/Estadão
Murici
Fruto de sabor adocicado muito comum na Amazônia. Quando guardado com água na geladeira, dura mais de um ano. A casca fina é comida junto com a polpa, que tem sabor ácido e de um salgadinho que lembra queijo, já o caroço pequeno no interior é usado para fazer bijuteria.
Foto: Tadeu Brunelli/Estadão
Moringa
É cultivada em quintais da região Nordeste para uso medicinal e por suas sementes, usadas no tratamento caseiro de água. Suas folhas e frutos juvons, flores, raízes e sementes podem ser consumidos.
Reconhecimento de pancs no espaço urbano. Duas vezes por mês, Neide conduz um grupo de até doze pessoas para identificar e coletar plantas alimentícias não convencionais pela City Lapa. O passeio termina com um "almoço panc" em sua casa, tudo preparado por ela. O projeto é chamado de Panc na City - uma brincadeira com o nome do bairro e a tradução em inglês da palavra cidade.
Quem quiser participar pode mandar um email para neide.rigo@gmail.com ou comentar em alguns dos posts do blog PancnaCity. Um e-mail é mandado para todos os interessados quando as datas são definidas, e os primeiros a responderem ganham a vaga.
Para comprar o livro Plantas Alimentícias Não Convencionais do Brasil: www.plantarum.com.br