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Volta ao mundo em 52 empregos

Por Rafael TononEspecial para o Estado 

Volta ao mundo em 52 empregosFoto:

Quando completou 26 anos, há um mês, o inglês Alex Nazaruk tinha motivos quase cabalísticos para comemorar a data: estava no 26º emprego e na 26ª semana de sua viagem gastronômica pelo mundo. Havia chegado exatamente no meio do caminho: tem mais seis meses pela frente – ou 26 semanas. Alex saiu de Londres em junho com a decisão de rodar o mundo por um ano, aprendendo os mais diferentes ofícios em gastronomia.

Sua meta era completar as 52 semanas em 52 empregos diferentes nos 5 continentes. Largou um emprego decente (“desses convencionais, 9 por 5”) e a namorada com quem morava na Inglaterra para ir cortar agave no interior do México e apanhar café em uma fazenda no interior de São Paulo, entre outras aventuras, que ele narra no site www.foodishboy.com.

Alex Nazaruk, viajante-estagiário e foodish boy. FOTOS: Divulgação

O Foodish Boy (alusão à expressão foolish boy, que significa ingênuo), que ainda não tinha tido experiências em cozinhas, resolveu entrar para o mundo da gastronomia aprendendo “desde o começo”, como diz. Da lavoura à fabricação de cerveja, da charcutaria à finalização de pratos. “Sempre quis empreender uma viagem para conhecer o mundo e achei que a melhor forma de fazer isso era através da comida, minha maior paixão.” Não contente em ser apenas um turista comilão que visita os melhores restaurantes, ele queria fazer uma imersão na produção dos alimentos, nas comunidades que os produzem, na cultura relacionada a eles. “Achei que a melhor maneira de ter isso seria trabalhando em diferentes áreas da gastronomia.”

Antes de partir de mala e cuia (e panelas), Alex contatou chefs, produtores rurais, donos de restaurantes, padeiros, proprietários de food trucks e mais um monte de gente em países como Estados Unidos, Japão, Argentina e Austrália, para pedir emprego. “Muita gente se dispôs a me dar uma chance.” Depois de passar pelo interior do Reino Unido, por um restaurante nórdico na Islândia, por caminhões de comida de rua em Nova York, fazendas e restaurantes orgânicos na Califórnia, plantações de agave no México e pela cozinha de um trem que chega a Machu Picchu, no Peru, ele desembarcou no Brasil, onde trabalhou com o chef Thomas Troigros, no Rio de Janeiro, e estagiou na cozinha do Epice, de Alberto Landgraf, em São Paulo. Depois seguiu para uma fazenda no interior de Minas Gerais para conhecer como é cultivado o nosso café. “Foi um dos lugares mais receptivos em que estive, assim como os outros países latino-americanos”, diz.

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No Brasil. Alex passou pela cozinha do Epice e pela fazenda de café Daterra, em Minas

O Paladar começou o contato com Alex quando ele ainda estava no Brasil. Depois, ele respondeu e-mails a partir da Argentina. Falamos com ele novamente quando já estava na Austrália. “Desculpe, mas quando não estou trabalhando, estou escrevendo ou programando as próximas viagens. A logística é uma loucura.” Confira a entrevista com o Foodish Boy, que garante que o esforço, as malas e os empregos pelos quais passou até agora valeram a pena.

Como surgiu a ideia de viajar o mundo para trabalhar em áreas tão diferentes da gastronomia? No fundo, eu sempre tive o desejo de fazer uma viagem assim. A maior parte da minha infância foi em volta da mesa ouvindo as histórias dos meus pais, que passaram 10 anos viajando pelo exterior. Meu pai, um dançarino cossaco ucraniano, contava coisas hilárias, enquanto minha mãe tinha uma visão mais romântica do mundo. Sempre fui apaixonado por gastronomia e decidi que minha viagem teria a ver com isso. Mas não queria ser um turista que apenas come em restaurantes. Queria viver a cultura e achei que a melhor maneira de ter isso seria através de empregos em diferentes áreas da gastronomia. Eu só não poderia me imaginar em um projeto tão ambicioso.

De tudo. De carregar barris de cerveja a montar pratos milimétricos são parte da jornada

Como você escolheu os locais a visitar? Londres, assim como São Paulo, é uma cidade extremamente vibrante e diversificada. Lá, eu tive o prazer de me deparar com muitas culturas diferentes, com suas alimentações e estilos de vida. Mas por ser tão urbana, me deu vontade de fugir da cidade e experimentar essa culinária mundial em nível local. Dei preferência ao interior, mas também não podia fugir de cenas gastronômicas tão importantes, como a paulistana. Queria ter experiências diversas nos cinco continentes. E acho que até agora tenho conseguido.

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E como você entrou em contato com as pessoas com as quais trabalhou? Como escolheu os lugares para trabalhar no Brasil? As pessoas que conheci ao longo do caminho têm me ajudado e inspirado o progresso da minha viagem, me dando dicas e indicando novos empregos. Por exemplo, o Virgilio Martinez (chef do restaurante Central, em Lima, no Peru) me contou sobre o trabalho que o Alberto Landgraf estava fazendo em São Paulo e, em particular, sobre a sua defesa de ingredientes. Depois de trocarmos alguns e-mails, ele gentilmente concordou em me ter na sua cozinha por uma semana. Também passei uma semana em Minas Gerais, na fazenda cafeicultora Daterra. Foi uma experiência muito gratificante, aprendi muito sobre as pessoas que trabalham duro em Minas e seu papel nos melhores cafés brasileiros. Eu realmente não estaria nessa posição sem a enorme quantidade de ajuda que venho recebendo até agora.

Prova de fogo. “Trabalho delicado para um chef nervoso”, disse sobre a experiência na Islândia

O que você já aprendeu sobre gastronomia com essa experiência? Antes dessa viagem, meu único conhecimento de gastronomia era de cozinhar para a família e os amigos. E, no entanto, sem qualquer experiência anterior, eu já fiz minha própria cerveja, preparei um menu degustação de nove cursos na Islândia e me juntei a um culto religioso em Los Angeles que serve comida vegana orgânica. Também destilei tequila e cozinhei a bordo do trem da Orient Express rumo a Machu Picchu. Fui agricultor, cervejeiro, açougueiro e padeiro. Isso sem contar o que aprendi com os lugares visitados, as pessoas e as histórias compartilhadas, que não dá para medir.

Quais serão os próximos destinos? Depois da passagem pela América do Sul e desses dias na Oceania (Alex estava em Auckland no fechamento dessa edição), eu sigo para a Ásia. Vou experimentar de tudo, desde vários tipos de caça no Japão rural até como fazer chá na China. Vou visitar pequenas cidades do interior e outras maiores, como Bangcoc, na Tailândia. Ainda devo participar de um jantar para 60 mil pessoas em um templo Sikh em Nova Deli, na Índia, em março, e depois parto para outros países: Turquia, Itália, França e Dinamarca. Quando voltar, te escrevo e fazemos outra entrevista, para eu contar sobre a outra metade da viagem.

>> Veja a íntegra da edição do Paladar de 9/1/2014

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