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Receitas do Ano Novo Lunar: cozinheiros asiáticos compartilham pratos de suas celebrações

A data é celebrada por mais de 1 bilhão de pessoas; conheça os pratos típicos da celebração em diferentes países asiáticos

O Ano Novo Lunar é celebrado como um festival de primavero em muitos países asiáticos. Foto: UnsplashFoto: Unsplash

O Ano Novo Lunar é comemorado por mais de 1 bilhão de pessoas em todo o mundo. Antes da pandemia de coronavírus, era conhecida como a maior migração anual do planeta, com pessoas viajando de volta para casa para festas e reuniões familiares.

Embora o Ano Novo Lunar seja comumente representado como um feriado chinês, a tradição é muito mais abrangente. Celebrado como um festival de primavera em muitos países asiáticos, o Ano Novo Lunar simboliza e incorpora uma transição esperançosa do frio do inverno para a estação da renovação. A comida, é claro, tem um papel significativo.

O Ano Novo Lunar é celebrado como um festival de primavero em muitos países asiáticos Foto: Unsplash

Para o Tet Nguyen Dan, celebração vietnamita que significa “festa da primeira manhã”, as famílias preparam bánh chung, um prato tradicional de arroz, e mut tet, uma bandeja de doces, colocando-os no altar da família em sinal de respeito aos ancestrais. Na Coréia, o festival de três dias Seollal apresenta rituais de reverência aos ancestrais, além de muito tteok guk (sopa de bolo de arroz), que simboliza que você está oficialmente um ano mais velho, com esperanças de mais um ano próspero pela frente. O prato de peixe cru yusheng, também conhecido como “salada da prosperidade”, é tradicional nas celebrações da diáspora chinesa na Malásia e Cingapura, enquanto as kue nastar (tortas de abacaxi) são apreciadas durante o Tahun Baru Imlek, o festival de ano novo da Indonésia. Em Taiwan, as famílias se reúnem para um hot pot, uma refeição perfeita para curtir em volta da mesa.

Apesar de suas origens antigas, o Ano Novo Lunar continuou sendo uma celebração culturalmente significativa e profundamente pessoal na Ásia e entre a diáspora asiática em todo o mundo. Algumas das maiores celebrações do Ano Novo Lunar do mundo agora acontecem fora da Ásia, com uma das mais notáveis em São Francisco. Os mais velhos transmitiram as ricas tradições e rituais para os mais novos, e agora os filhos dos imigrantes estão abrindo caminho com celebrações modernas no Ocidente, fundindo perfeitamente passado e presente. Embora não sejam idênticas às dos mais velhos, suas celebrações mantém um forte compromisso com a preservação de suas histórias culturais, reunindo a família e os amigos para saborear pratos especiais e, principalmente, homenagear os ancestrais.

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Conversamos com cinco cozinheiros de cinco culturas asiáticas sobre o que o Ano Novo Lunar significa para eles e qual receita melhor representa sua celebração.

A celebração do Tet

O mut tet, uma bandeja de lindas frutas cristalizadas, legumes, nozes, sementes e outros doces, é a peça central de todas as celebrações do Tet, o Ano Novo vietnamita. Doris Ho-Kane, fundadora da padaria vietnamita-americana Ban Bè em Nova York, descreve vividamente os mut tet de sua infância: um requintado mut tec (quincã cristalizada) com furinhos, trai ho ng achatado (caqui fuyu) e lascas de coco cristalizado e tingido em tons pálidos de rosa e verde. Degustar alimentos doces no primeiro dia do ano lunar é um gesto cheio de simbolismo, explica ela.

“Toda essa beleza dramática, pitoresca e açucarada representa uma deferência afetuosa aos nossos ancestrais, a chegada da primavera, a boa sorte, a felicidade e o crescimento”, diz ela. “Minha lembrança favorita é ver minha bângoi [avó materna] acender incenso no altar, as nuvens de fumaça com aroma de jasmim acariciando seu rosto e o prato de doces e comida que ela tinha trabalhado tanto para preparar”.

Para seu mut tet, Ho-Kane faz keo me xung dau phong gung, um doce de gergelim meio grudento, uma adaptação da receita que ela comia na infância. Sua família geralmente comprava a iguaria, mas ela decidiu fazer sua própria versão e deixá-la menos doce, adicionando gengibre e um toque de raspas de laranja, uma referência ao mut de sua família.

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“Na minha família, as laranjas são parte integrante da bandeja de cinco frutas que colocamos no altar durante o Tet. Em vietnamita, dizemos “Ä‚n qua nho ke tro ng cay” [“Ao comer uma fruta, você deve pensar na pessoa que a cultivou”] para nunca nos esquecermos do lugar de onde vem nossa alimentação. É um lembrete importante. Eu sempre tento incorporar frutas às coisas que faço”.

Ela vê seu trabalho como uma “prática de cura pessoal para mim, que sou filha de pescadores. Poder comungar com minhas tias ancestrais todos os dias é uma motivação incrível. E uma honra também”.

Os atos de preservação de Ho-Kane se estendem à transmissão das tradições e rituais para seus três filhos pequenos.

“Para o Tet, fazemos versões abreviadas de tudo o que meus pais e minha avó faziam. Sempre distribuímos lì xì [dinheiro da sorte], mas não gostamos dos jogos de azar. Fazemos bánh chung [bolinho de arroz], mas em vez de fervê-lo por sete horas, usamos uma panela elétrica. Fazemos mut e keo, mas não colocamos pratos extravagantes de comida no altar. É um mini Tet, no estilo do Brooklyn. Quero preservar e passar esses costumes e tradições para meus filhos, mas sendo vietnamita-americana de primeira geração, acabei misturando as coisas. Espero que meu caminho ainda celebre a essência e o significado do Ano Novo Lunar”.

A comemoração do Seollal

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Durante o Seollal, o Ano Novo Lunar coreano, as famílias prestam homenagem aos mais velhos, passados e presentes. O feriado de três dias se ancora em rituais sagrados que giram em torno do culto aos ancestrais, como a cerimônia do Jesa, a qual simboliza o fortalecimento dos vínculos entre os vivos e os falecidos. Os rituais do Jesa variam de uma família para outra, mas normalmente envolvem um banquete preparado pelas mulheres da família.

Para o coreano James Park, a mesa do Jesa é uma parte muito querida das celebrações do Seollal de sua família.

“Minhas tias e minha mãe passavam dias preparando todos os diferentes tipos de jeons [panquecas salgadas fritas] e outros pratos para o Jesa de Seollal”, diz Park, produtor de vídeo do site Kitchn. “Eu adorava sentir o cheiro delicioso sempre que visitava a casa do meu tio durante esse período. Depois do Jesa principal do Ano Novo Lunar, meu irmão e eu visitávamos as casas dos outros familiares mais distantes e participamos do Jesa deles”.

A família de Park vem da província de Gyeongsang, na parte sul da península coreana, na fronteira com o Mar do Japão. De acordo com Park, uma sopa saudável de carne e rabanete chamada tang-guk é o “prato por excelência” da mesa do Jesa de sua família.

“A receita tem só um punhado de ingredientes, mas cria um sabor muito agradável e reconfortante no final. A sopa decididamente não tem nenhum tempero porque não deve haver nada picante na mesa do Jesa. Minha mãe não era muito de cozinha, então não tenho muitos pratos de infância. Mas essa sopa é um dos poucos pratos que eu mais amo na versão da minha mãe. Ela sempre fazia uma panela grande de tang-guk e comíamos por dias, e ninguém reclamava”.

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Agora, morando em Nova York, longe da família, Park encontrou maneiras engenhosas de garantir que o Seollal continue sendo uma parte importante de sua vida, uma maneira de se manter conectado com os rituais e costumes com os quais cresceu.

“Ainda faço reverência aos meus pais no Ano Novo Lunar pelo FaceTime e desejo a eles mais um ano maravilhoso. Eles não me dão mais sebaet don [dinheiro]. Quando crescem, as crianças é que dão sebaet don aos pais, como forma de agradecimento”.

O Ano Novo Lunar em Cingapura

Em Cingapura, onde a autora de livros de receitas Sharon Wee cresceu, o Ano Novo Lunar era um evento caprichado. Wee vem de uma família de Peranakans, uma comunidade cuja ascendência remonta a alguns dos primeiros colonos do sul da China que migraram para várias partes do Sudeste Asiático, principalmente Malásia, Cingapura e Indonésia. Com o tempo, esses colonos desenvolveram uma cultura distinta que combinava influências chinesas e locais.

Na véspera de Ano Novo, a família de Wee se reunia para um jantar especial, pratos no vapor e outras iguarias deliciosas que a mãe de Wee preparava para a grande refeição do dia de Ano Novo.

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Wee se lembra de sua família trabalhando fervorosamente para preparar a casa para o novo ano. Tudo precisava ser novo e perfeito. Isso significava fazer uma faxina completa, estender lençóis limpos, decorar a casa com plantas e fitas vermelhas e organizar biscoitos e tortas caseiras de abacaxi para os convidados. / TRADUÇÃO DE RENATO PRELORENTZOU

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