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Restaurantes e Bares

A décima e última noite em Salvador

A décima e última noite em SalvadorFoto:

É minha décima e última noite em Salvador. A visita ao Amado estava programada desde o primeiro dia, mas por algum motivo foi sendo adiada – algo como guardar os bombons mais atraentes da caixinha. Ah, sim, houve uma pré-visita. No tarde do dia 2 de fevereiro, quando a cidade festeja Iemanjá, passei no restaurante para cumprimentar o chef, Edinho Engel. “Ele está almoçando no Rio Vermelho, lá onde está acontecendo a festa”, avisou-me o garçom.

Como também eu havia optado pelos quitutes que pipocam no Rio Vermelho em homenagem à rainha do mar, antes de deixar o Amado quis só um drink e uma sobremesa. Meu acompanhante pediu Banana flambada em Cointreau com sorvete de canela. Por um acaso, o doce harmonizou perfeitamente com a margarita. Na saída, uma surpresa: cruzo com Edinho, de camisa azul florida e bermuda. “Fugi do almoço para ver como estava o restaurante”, conta o chef. Comeu a tradicional feijoada do Dia de Iemanjá? “Sabe que não? Estava em um hotel e eles serviram carnes”.

Passei minha décima e última noite na Bahia sentada, sozinha, na varanda do Amado, em frente à Baía de Todos os Santos. Rodeada de homens de terno bebericando vinhos, estrangeiros extasiados dizendo frases como “what a supermenu!” e garçons bem treinados e cordiais como poucas vezes vi na vida. Tanto que julguei que deveriam sair na coluna do Guia do Estadão “Quanta Gentileza” – sem o véu da ironia, obviamente.

“É sua primeira vez em Salvador? Está gostando da cidade?”, um garçom me pergunta, ao entregar o cardápio. Peço uma sugestão, algo que esteja bem fresco, e ele me indica a lagosta. Eu tenho vontade de fazer uma piadinha do tipo “ah, sim, também gostaria de ir a Paris”. O que queria mesmo era um peixe. Entre o robalo e a pescada amarela, fico com a pescada. Sempre me delicio com um robalo, mas a pescada vem com caruru e purê de banana da terra. Adoro caruru e purê de banana me tira do sério desde que provei o de banana pacovã, cujo gosto é similar ao da terra, da chef amazonense Maria do Céu Athayde, no último Laboratório Paladar.

Enquanto o prato não chega, tento, em vão, fotografar a lua, que está querendo ficar cheia, mas nesta altura tem o formato de uma meia melancia. Quando se está em férias e não há nada anotado na agenda, costumes como o de observar o crescimento da lua, ou o modo como a maré de repente se enfurece, tornam-se deliciosamente obrigatórios.

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O levíssimo caruru contorna toda a pescada, o que faz com que quando se dá uma garfada no peixe ela venha acompanhada dos quiabos. Tem baba, que maravilha. A crosta de caju do filé é delicada e eu não estava enganada em relação ao poder do purê de banana. Não deixei nada no prato, e de súbito me lembrei que alguém, em alguma ocasião, durante minha infância, me alertou a nunca fazer isso, pois seria deselegante. Com certeza não era ninguém da minha (muito) italiana família.

Quando o garçom veio completar a água, não disse nada, mas foi como se tivesse perguntado se estava gostando da comida, tanto que eu espontaneamente disse “está ótimo”. Embora o calor não desse trégua, mesmo à noite à beira mar, não dispensei o café.

– “A sobremesa a senhora já comeu, né, noutro dia? Fez o caminho inverso…”

*O Amado fica na Av. Lafayete Coutinho, 660, Comércio, tel. (71) 3322-3520.

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