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Restaurantes e Bares

A ressaca da comida de rua

Nos últimos dois anos, a onda da comida de rua ganhou força e inundou São Paulo. Claro, já havia carrinhos de milho, pipoca e hot-dog na cidade – mas a novidade, então, era que preparações mais complexas e com ingredientes de qualidade, a preços acessíveis, também ocupariam as ruas. E o melhor: tudo seria reconhecido oficialmente pela Prefeitura, que sancionou lei e regulamentação entre o fim de 2013 e o começo de 2014. Passada a onda, no entanto, parece ter sobrado apenas espuma, seguida de ressaca.

A ressaca da comida de ruaFoto:

Nem a promessa de uma comida de qualidade a preço razoável nem a ocupação efetiva da rua se realizou. “Virou uma grande porcaria. A maior parte do que existe não é voltada para a gastronomia. Não tem qualidade. E o pior, ficou elitista – tem gente pagando por R$ 25, R$ 30 por um hambúrguer ruim, só porque é feito num food truck”, diz Checho Gonzales. Ele, ao lado do chef Henrique Fogaça, organizou nos últimos dois anos a feira O Mercado, que teve a última de suas 33 edições domingo passado.

O evento foi um dos pioneiros do movimento de popularização da comida que antes se achava em restaurantes, reunindo chefs de cozinha para vender pratos a no máximo R$ 15. O público total foi de 150 mil pessoas. “Acho que deu uma banalizada. Percebi uma queda no movimento e estava cada vez mais difícil achar gente vendendo bons produtos”, diz Checho.

FOTOS: Isabele Ribeiro/Estadão

O chef do restaurante Vito, André Mifano, rodou com um food truck patrocinado no fim de 2013 e participou das reuniões que deram forma à lei da comida de rua. “É triste que a coisa tenha evoluído para isso. Comida de rua era para ser ágil, de qualidade, acessível. Mas tem muito aventureiro que botou um monte dinheiro num food truck sem saber cozinhar e agora tem que pagar o que investiu”, diz. “O apocalipse do food truck está por vir – e acho que muitos poucos, só os que têm um produto bom, vão sobrar.”

Um dos casos mais bem-sucedidos é o de Márcio Silva, que, ao lado de Jorge Gonzalez, pilota o Buzina Food Truck. “Conto nos dedos da mão os que vendem comida de qualidade”, diz ele, que tem dois trucks circulando em São Paulo – principalmente em pontos privados.

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Nas ruas?

E se, por um lado, o valor gastronômico da nova comida de rua é duvidoso, por outro, ela de fato mal chega a ocupar a rua – ao menos legalmente. “As Subprefeituras deveriam organizar os pontos para venda da comida de rua. Só que isso não acontece”, diz Márcio. Donos de food trucks reclamam que só a Subprefeitura de Pinheiros tem atendido a demanda pela determinação de pontos para venda de comida de rua – algo previsto em lei – e se esforçado para organizar o fluxo de carros. “Ainda assim, dos dez pontos definidos, só dois ou três são bons. E não têm demarcação no asfalto: não raro tem carro parado no ponto.”

A saída tem sido recorrer a feiras e festivais. Que pipocaram pela cidade, cobrando caro (até R$ 800 por dia, por carro), mas que fecharam na mesma velocidade com que abriram, caso do Wheelz Gastronomia Urbana. Para o consumidor, ir às feiras significa longas filas e gastos de até R$ 60. “Acho que houve uma euforia no começo, e agora o mercado está se regulando”, diz Mauricio Schwartz, produtor da pioneira Feirinha Gastronômica e dono do Butantan Food Park – onde ele diz receber de 15 mil a 20 mil pessoas por semana. “Há muito espaço para crescer. Para muita gente, a praça de alimentação do shopping ainda é a única opção.”

Bom e ruim

O que funcionou e o que não deu tão certo depois de mais de um ano da lei de comida de rua.

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Estacionados. A ideia dos carros de comida é que circulem. Mas eles param mais em estacionamentos do que na rua. Um casamento que deu certo foi entre lojas de cerveja e food trucks, que param na frente delas. A lei definiu pontos na rua para vender comida, mas as Subprefeituras não têm estrutura para organizar esse movimento.

Passeio. Apesar das filas e de ter gente sem muita experiência comandando food trucks, os parques de comida se consolidaram como opção de lazer para milhares de paulistanos, que lotam eventos nos fins de semana.

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