Cozinheiro autodidata, teve vários restaurantes, mas fez fama com a casa que tinha seu nome, inaugurada em 1987, em Chicago – e que manteve por 25 anos, até fechá-la no ano passado, causando surpresa. Trotter foi o primeiro no país a oferecer menu degustação com ingredientes sazonais, comprados de agricultores locais. Apostava na criatividade, no uso de diferentes técnicas culinárias e formou gente importante em sua cozinha, como Grant Achatz, dono dos premiados Alinea e Next, em Chicago. E investiu na formação de profissionais na Trotter Education Foundation, programa de bolsas para estudantes de gastronomia.
Nos anos 90, Trotter se empolgou com a “raw food” e levou a tendência à alta gastronomia, dando tratamento sofisticado a grãos e brotos. Em 2003, lançou com a chef Roxanne Klein o livro Raw, com técnicas e receitas do gênero.
Memória. Foi pioneiro nos menus degustação nos EUA e no uso de ingredientes sazonais e crus. FOTO: Wilfredo Lee/AP
A raw food foi o tema de sua visita ao Brasil, em 2004. Fez palestra sobre isso na Universidade Anhembi Morumbi e serviu um jantar espetacular, no restaurante Eau, do Grand Hyatt São Paulo, repleto de molhos feitos à base de reduções, óleos, infusões, leite de castanha e frutas, e legumes crocantes secos em um desidratador que trouxe na bagagem, junto com uma equipe de seis pessoas que incluía o sommelier especializado em harmonizar seus pratos e vinhos. Foi um show.
Trotter era perfeccionista, obsessivo, rigoroso com tudo e todos e deixava claras suas preferências, mesmo que isso pudesse causar embaraço. Na visita a São Paulo, ficou célebre o constrangimento causado durante seu jantar no D.O.M. Alex Atala serviu um menu-degustação com três pratos com foie gras. Charlie Trotter fez questão de deixar todos no prato, acintosamente. Ele foi um dos primeiros a tirar o foie gras de seu cardápio.
Na mesma viagem ao Brasil, em visita ao Rio, Trotter pediu em casamento Rochelle, com quem esteve casado até o fim. O chef tinha gênio ruim, mas era muito querido pelos cozinheiros, como seu amigo Ferran Adrià.
Quando seu restaurante completou 25 anos, ele fez uma festa em Chicago – os convites custavam 5 mil dólares, com a renda revertida para a Charlie Trotter Education Foundation. “Foi uma festa de 3 dias, com a participação de Ferran Adrià e de outros seis grandes chefs de vários países”, lembra Rosa Moraes, responsável pela vinda de Trotter ao Brasil e que estava entre os convidados.
/ colaborou Carla Peralva