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Restaurantes e Bares

Brasa morna

Veja como é jantar no restaurante Brace, que fica no Eataly

Brasa mornaFoto:

No tempo dos dois lances de escada rolante que levam ao restaurante Brace, é privilegiada a vista para o mundaréu de gente e produtos do Eataly. Ainda não tinha conhecido o megaempório que abriu em maio em São Paulo. Aí, o clique: escadas rolantes, vaivém de pessoas, funcionários, seguranças, valets – será que estou num shopping? O Eataly tem a cara de São Paulo, ou de uma certa São Paulo. Como bem definiu um leitor no site do Ricardo Freire, é a ultimate padoca paulistana. Uma Galeria dos Pães que foi à Itália e a Nova York e voltou de mala cheia.

Pois bem, ao Brace, brasa em italiano. Quase tudo o que sai da cozinha passa por ela. Mas o negócio só funciona mesmo com as entradas. Era hora do almoço, o salão repleto de crachás, em mesas e pescoços. Uma assombração paulistana me soprou: “praça de alimentação”, mas a salsiccia alla brace (ótima linguiça de javali feita na casa) e o polpo (tenros tentáculos de polvo com cebola roxa) logo espantaram o anjo safado. Uma frustração, contudo: salivei com a mozzarella in carrozza, o sanduíche frito do sul da Itália. Mas veio sem aliche.

Pasta. As pappardelle com camarão e frutos do mar são boa pedida. FOTOS: Fernando Sciarra/Estadão

De volta às brasas: depositava nelas a esperança de deliciosas carnes. Me desenganei. O bife de chorizo foi pedido ao ponto. Veio com boa crosta churrasqueada, mas sem suculência, quase cinza por dentro. A bistecca alla fiorentina, pratão de R$ 185 para dois, era para ser o destaque do cardápio. Mas o corte a que os americanos chamam porterhouse, um osso em forma de T que de um lado traz o filé mignon, doutro o contrafilé, veio passado – e com sal escondendo o sabor da carne. O peixe do dia (que nas três visitas foi robalo; coincidência?) também perdeu suco, secou.

Depois de três visitas, meu pitaco: vá de pasta, como as pappardelle frescas com camarões e lula (salteados, não na brasa) e o vesuvio com ragu de porco (massa em formato de vulcão), molho potente, concentrado e saboroso. Também das brasas vem a pesca (pêssego com mel e sorvete de leite), que não chega a caramelizar, vem só com a marca da grelha, não preenche a boca.

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Capítulo à parte: embora o restaurante tenha mais de dois meses, o serviço ainda é muito desajustado, não domina o cardápio. Fica no meio do caminho entre formalidade e informalidade e assim vira ineficiente.

Ambiente. A cozinha fica à vista e dá para o salão da casa

SÓ EM SP O restaurante é o mais ambicioso do Eataly. Enquanto nos outros andares há balcões e mesinhas apertadas nos corredores vendendo massas, peixes, carnes, petiscos, o Brace tem um piso só seu, no terceiro andar, com amplo salão e um cardápio maior, com assinatura da chef Ligia Karazawa (ex-Clos de Tapas). O Eataly, que começou em Turim, na Itália, em 2007, abriu em São Paulo em maio. Só a filial paulistana tem um restaurante como o Brace.

O MELHOR E O PIOR

Prove O couvert, que cumpre a elementar, mas ainda tão difícil em São Paulo, tarefa de oferecer bons pães – assados na padaria do andar térreo do Eataly – e manteiga, que é feita na casa com queijo pecorino. Vem com uma porção de abobrinhas grelhadas e tomate no azeite. Custa R$ 12 por pessoa.

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Evite Os fins de semanas, quando tudo fica lotado demais no Eataly e a espera no Brace é longa. A picanha na brasa (R$ 62). O corte já deu o que tinha que dar ao Brasil, vamos deixá-lo em paz.

COMEÇO Paladar me deu este vale-refeição. Espero fazer jus à honra e ao privilégio que é ocupar este espaço, pelo qual com brilho passaram Saul Galvão e Luiz Américo. Adiante, que só se vive uma vez – melhor não comer mal.

BRACE

Estilo de cozinha: italiana, com foco na grelha.Bom para: almoço, se você trabalha por perto e está com orçamento e horários mais folgados. Mesmo durante a semana há filas. Vinho: A carta é extensa, um passeio pela Itália. Mas é duro escolher: é preciso meio salário mínimo para beber boa parte das garrafas sugeridas. Só três rótulos têm preço abaixo de três dígitos – o mais em conta é um dolcetto de R$ 75. Com menos de R$ 29 não se bebe uma taça.Cerveja: Ponto positivo. Oferta ampla de boas artesanais brasileiras, a preços iguais ao do mercado.Água e café: Podiam ter importado de outras filiais do Eataly a ideia da água da casa. A garrafa (250 ml) é R$ 4,50. Expresso Lavazza é correto (R$ 5,50).Preços: Entradas de R$ 24 a R$ 52. Pratos de R$ 48 a R$ 185 (para dois). Sobremesas: R$ 16 a R$ 22.Vou voltar? Não tão cedo. Talvez com meus primos de fora da cidade, para mostrar o que é o Eataly, o que é São Paulo.Onde: Av. Pres. Juscelino Kubitschek, 1.489. Vila Nova Conceição. 3279-3300. 12h/15h e 19h/23h (sex., 19h/0h; sáb., 12h/0h; dom., 12h/23h). Estacionamento: R$ 10 a R$ 20 (valet). Ciclovia: Parque do Povo (1 km). O Eataly tem um paraciclo bem decente na frente.

>>Veja a íntegra da edição do Paladar de 13/8/2015

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