Um certo músico celebrizou aquela tal esquina paulistana. Alguma coisa aconteceu ali no coração dele. No cruzamento da Ipiranga com a Avenida São João meu coração só acelerou depois que corri para atravessar a faixa de pedestre em xis, boa ideia trazida ano passado de Shibuya, em Tóquio, para o centrão de São Paulo. Corri para chegar ao novo restaurante de comida peruana tradicional que se instalou ali, o Rio Mar.
Fica na diagonal oposta ao Bar Brahma, no segundo andar de uma casa antiga ocupada, no térreo, por um comércio popular. Assim, é preciso vencer escadaria e um tortuoso corredor para chegar ao salão do Rio Mar. É um salão simples, com umas duas dezenas de mesas. Tem belos janelões que deixam entrar muita luz, barulho e oferecem visão privilegiada para o fuzuê lá embaixo.
O Rio Mar é autêntica casa peruana. E, por favor, não vamos chamá-lo de “mais um restaurante étnico do centro da cidade”, porque étnicos, de alguma forma, todos os restaurantes são (por preconceito, a gente só chama assim os de imigrantes não remediados).
Mas vamos ao ponto: a comida é boa, muito fresca, preparada com apuro e esmero. Como dizem os irmãos donos do lugar, não é gourmetizada – ufa. De fato, ela muitas vezes chega à mesa anti-instagramável, com aquelas (inúteis) folhas de alface decorando, por exemplo, uma porção de chicharrones, boa fritura empanada de peixe, lula ou camarão.
O cardápio é razoavelmente grande. Tem a parte fria, donde destaco os choritos, mexilhões marinados com cebola roxa, dupla ideal para o pisco sour da casa, e os ceviches, ótimos, (embora caros) com peixe bem fatiado em lâminas, como se fosse sashimi. E tem a parte quente: atenção para a parihuela, ensopado de frutos do mar tradicional que também fez alguma (boa) coisa acontecer no meu coração. As prosaicas papas a la huancaina, batatas mornas com cremoso de ajís (pimentas), valem a pena.
Boa solução de ataque ao cardápio é pedir o Piqueo Marino, prato para dividir em três ou seis, que vem com um pouco de ceviche, chicharrones, causas recheadas (purê de batata com frango ou caranguejo), arroz com mariscos.
O atendimento é feito por garçonetes simpáticas, peruanas e uma colombiana, que hablam portunhol; com boa vontade todo mundo se entende. Aviso: os preços não são baixos – o ceviche misto médio custa R$ 86 e dá para um faminto, ou dois pedindo mais alguma coisa.
CONTEXTO
O Rio Mar funcionava há pouco mais de dois anos na Rua Guaianases, também no centro, onde cativou clientela – de peruanos expatriados e brasileiros. Era no miolo da Cracolândia, o que dificultava um pouco as coisas, para clientes e, principalmente, para os donos do restaurante. Agora, abriu há duas semanas na Ipiranga com São João. É comandado pelos irmãos peruanos Hosler, Michael e Franco Castro Fernandes, que estão na cozinha e no salão.
O MELHOR E O PIOR
PROVE
O arroz com mariscos. Reconfortante e bem fornido em frutos do mar; tem grãos firmes, bem temperado. A parihuela. Ensopado de peixes e frutos do mar, que vêm no bom ponto, para comer com arroz O ceviche. É picante e fresco, como deve ser, banhado em saborosa leche de tigre.
EVITE
A IncaKola. É folclórico e tal, mas o popularíssimo refrigerante peruano é doce além da conta Ir com alguém de mobilidade limitada. O restaurante, no segundo andar, não tem acessibilidade.
Estilo de cozinha: peruana, de pratos tradicionais.
Bom para: almoço na semana, rápido em mesa menor, ou no fim dela, com amigos e tempo.
Acústica: a música ambiente vem do rádio, é brasileira; se as janelas estão abertas, porém, o som da rua invade bem – e pode ser perturbador.
Vinho: não tem vinho na casa. Mas tem destilado de uva, o tradicional pisco peruano. O drinque pisco sour (R$ 20) feito ali é bem bom.
Cerveja: para rebater as pimentas, apenas Heineken, Stella Artois e Sol, a nada módicos R$ 10 cada uma.
Água e café: água mini a R$ 5 – nada de água da casa. Sigo na campanha: vamos servir água filtrada cortesia? Não tem café.
Preços: entradas de R$ 15 a R$ 42; pratos de R$ 33 a R$ 86; sobremesa de R$ 8 a R$ 10.
Vou voltar? Sim, é boa opção quando no Centrão
SERVIÇO
RIO MAR Av. São João, 610, Centro Tel.: 93019-7668 Horário de funcionamento: 12h/23h (aberto todos os dias) Valet: não tem Ciclovia no Lgo. do Paiçandu (a 300 m) Não tem bicicletário