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Restaurantes e Bares

Rodeio paranaense

Era o nosso terceiro dia em Londrina e já havíamos almoçado duas vezes no Rodeio. Vamos mudar então? Imaginei o macio filé com funghi na travessa, a confortável mesinha escondida atrás da coluna bege e… sorri, como um sim. Certo, vamos procurar outro restaurante. Mas já eram 3. “Numa hora dessas”, disse um sujeito, meio gratuitamente, “só o Rodeio”. Sorri satisfeita.

Rodeio paranaenseFoto:

Era um domingo desses frios e ainda mais frio porque a cidade estava vazia que nem cesta de pão de queijo recém tirado do forno. Os garçons não estranharam nossa repetitiva presença. Que bom sentar na mesma mesa, que bom o mesmo ótimo serviço, o mesmo filé, o mesmo arroz soltinho, batata frita gorda e sequinha, mandioca amanteigada.

 

Rotina, quando é boa, é imbatível. Arroz e feijão bem feitos não cansam nunca. Pão com manteiga, também não. O problema é garantir o padrão dos pratos, digamos, básicos – em vez disso, os restaurantes preferem lançar uma “novidade imperdível”, um prato ultra alguma coisa, com o ingrediente da vez ou um molho trazido, sei lá, do Marrocos. Às vezes dá certo, geralmente não.

O Rodeio, aberto por um gaúcho há 43 anos no centro de Londrina, gosta de ser regular. O cardápio é enxuto e a especialidade da casa é o filé à parmegiana. “Para não dizer que não mudou, assim, nada, acrecentamos, nesses anos todos, uns dois pratos no cardápio”, conta Paterniano Dias da Silva, o Tino, garçom da casa há 21 anos. Ele começou trabalhando na cozinha e diz que nunca pensou em mudar de emprego porque não seria conveniente sair dali para fazer a mesma coisa. “Mas eu sou até novo, perto do Nelson. Ele tá aqui há 41 anos”.

 

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Dizer que Nelson Faneca circula com espantosa familiaridade no Rodeio é como dizer que Londrina combina com casas de peroba. “Aqui já veio Nelson Gonçalves…”, conta Nelson, os cabelos brancos penteados para trás e um sorriso constante nos lábios finos. E entre os clientes célebres ele citou bem o seresteiro Nelson Gonçalves, fazendo tocar na cabeça de um dos visitantes “eu voltei, eu voltei para rever os amigos que um dia deixei a chorar de alegria…”.

Luiz Gonzaga e uma porção de músicos e políticos e famílias glutonas e bons de copo teriam, como nós, se sentado ali na João Cândido, pedido o tenro filé mignon cuja meia porção dá para duas pessoas e custa menos de R$ 30, jogado desavergonhadamente um pouco do molho em cima do arroz e escutado a prosa do trio radicado na cidade cortada pelo lago Igapó. Nelson, Tino e Benedito Oliveira, que não conhecemos, mas está na casa há 23 anos.

O Rodeio, que está na sua terceira dinastia (há 30 anos, quem o comanda é Arlindo Dessunti), funciona todos os dias das 11 à meia-noite. “Ficava aberto até às 5 horas, para lavar o chão tinha que tocar freguês da mesa”, lembra Tino. Afogueando a rixa carnívora entre gaúchos e argentinos, digo que as carnes do Rodeio superam muitas argentinas de botecos bem mais pretensiosos. E o couvert, torradas de pão francês com manteiga e berinjela – essa é para o restaurante do Malba, que levou de volta o couvert quando eu disse ‘no, gracias’ e cobrou-o na conta dizendo que era obrigatório – é cortesia da casa.

Rodeio. Rua Professor João Cândido, 333, centro, Londrina, (43) 3324-2053

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