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Restaurantes e Bares

Um (bom) bistrô francês com vista para a República

No novo restaurante do chef francês Olivier Anquier, o Esther, a vista para a Praça da República é o carro chefe, mas o cardápio também tem bons acertos

Confit de bochecha de porco. Foto: Sergio Castro|EstadãoFoto: Sergio Castro|Estadão

Eu já tinha começado a trabalhar sobre as bochechas de porco confit. Elas haviam sido cozidas por 3 horas, dizia o cardápio, e eu tratava de apurar o paladar para discernir o mel e alecrim que compunham o prato, guarnecido por batatas assadas. Lá pela terceira garfada, então, sinto uma coceira por dentro do nariz. A garganta subitamente parece uma lixa, áspera; os olhos ardem. A ideia de que o cozinheiro tascou um vidro de malagueta no prato por engano vem à cabeça, mas logo é afastada quando percebo que meus amigos de mesa também acusam o golpe – esfregam a vista, pigarreiam. Nosso jantar recebia o tempero das bombas da Polícia Militar. 

O gás lacrimogêneo que os agentes da Tropa de Choque lançavam lá embaixo a torto e a direito, na praça da República, alcançava a cobertura do emblemático edifício Esther, onde está instalado o novo restaurante de Olivier Anquier com seu irmão Pierre e o chef francês Benoit Mathurin. Logo na primeira semana de funcionamento, o restaurante sentia a dor e a delícia de estar no centro de São Paulo, ainda que a dezenas de metros do chão, no pouco francófilo rooftop (a casa chama-se Esther Rooftop). 

Confit de bochecha de porco Foto: Sergio Castro|Estadão

E aqui vai um aplauso. Olivier Anquier poderia tranquilamente abrir um restaurante no Itaim Bibi ou nos Jardins com altíssimas chances de vê-lo lotar sempre – como de resto já acontece nos dois endereços do seu L’Entrecote, onde serve apenas bife com batata frita. Mas ele e seus sócios decidiram investir no centro de São Paulo, sem desalojar ou desocupar quem lá já estava – o apartamento, onde Olivier já morou, estava vazio. 

Ir ao Esther Rooftop, portanto, é de alguma forma viver um pouco mais a cidade. O metrô desemboca bem ali na frente, tem linha de ônibus à mancheia, a praça se abre para o edifício. É certo que à noite, ao menos, um segurança controla a entrada na portaria, e uma hostess, que explica que o esquema é para “não deixar entrar qualquer um”, busca os comensais no térreo e os acompanha no elevador. Mas no salão o clima é descontraído. 

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O que nos traz enfim ao ponto: a comida ali servida é, também, descontraída. Essa é, acho, a chave para não se decepcionar com o Esther. Não vá ao restaurante esperando a grande cozinha francesa. A casa propõe comida de bistrô e entrega o que propõe – até mesmo com as oscilações comuns nos bistrôs de bairro parisienses. Come-se bons pães, boa terrine, bom camambert assado, boa sardinha grelhada inteira para começar. As carnes formam o grosso do cardápio principal: os pontos do contrafilé, da farta costela de porco no forno, do peito de pato (enfeitado com dispensável pipoca), dos rins e timo, da bochecha de porco e mesmo dos peixes e frutos do mar ensopados são acertados. E tem ainda boas sobremesas, como o brioche e o arroz doce. 

Só para esclarecer, não repeti aí em cima o adjetivo “bom” à toa: a comida no Esther não chega a brilhar, mas também não desagrada – com exceção do steak tartar, servido só no almoço executivo, que mais parece aquele patê de atum campeão das laricas da madrugada, de tão triturado, e dos drinques, que não estão no alto nível que já se pratica na cidade. 

Um bar ocupa o centro do salão; há mesas também no terraço da cobertura Foto: Sergio Castro|Estadão

Ah, sim, desagrada também, e muito, a fornalha no terraço, que vira uma estufa na hora do almoço (o maître Assis garante que um ar condicionado será instalado ali). 

Por fim, o serviço ainda não dá conta do fluxo de gente – e faltou uma revisão no português do cardápio...

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CONTEXTO

O restaurante é na cobertura do edifício Esther. O prédio, do arquiteto Álvaro Vital Brazil, é dos primeiros modernistas do País. Desde a inauguração, em 1937, combina ocupação residencial e comercial. O apresentador Olivier Anquier morou no apartamento em que funciona o restaurante. Ele cedeu o espaço ao irmão Pierre e ao chef Benoit Mathurin, que estão à frente do negócio.

Terraço do Esther com vista para a praça da República Foto: Sergio Castro|Estadão

O MELHOR E O PIOR

PROVE A “terrine do meu avô”. É bem temperada e guarda boa umidade no interior. Belo abre-alas.  O “para conhecedores”. Miúdos bem feitos: rins e timo sobre purê de batata.  O brioche Esther. A sobremesa tem equilíbrio no doce e é banhada num ótimo caramelo salgado com sorvete. 

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EVITE

O mojito da República. Alguém jogou sorvete, marshmallow, skittles e chocolate no meu drinque.  Ir sem reservar. A casa anda bem cheia, em especial durante o almoço. 

Sardinhas grelhadas Foto: Sergio Castro|Estadão

Estilo de cozinha: francês, de bistrô, simples.

Bom para: jantar informal com amigos e tempo. 

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Acústica: o salão é ruidoso, especialmente quando lotado, com gente esperando para sentar; o terraço tampouco é silencioso; a música é alta e compõe o clima agitado da casa.

Vinho: para um restaurante que se pretende bistrô, informal, faltam rótulos também, digamos, informais – a carta é variada, mas começa perto dos R$90 e a maioria dos preços é de três dígitos. Taças de R$19 a R$ 26. Taxa de rolha: R$ 50. 

Cerveja: um oferecimento de Ambev – Stella a R$12, Goose Island a R$29 e três boas Wäls a R$ 15 e R$ 26. 

Água e café: os sócios franceses sabem bem o que é servir água da casa, mas por aqui nada de carafe d’eau cortesia. Pelo contrário, cobram R$5 por uma garrafita de 300ml e absurdos R$ 8 por uma aguinha com gás. Café é correto, da Santa Monica (R$6). 

Preços: petiscos e entradas (R$ 18 a R$ 42), principais (R$ 55 a R$ 72), sobremesas (R$ 21 a R$ 23). 

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Vou voltar? Sim, para levar amigos de fora da cidade ou demófobos que não vão ao centro.

SERVIÇO

Esther Rooftop

Pça. da República, 80, República, Tel.: 3256-1009 Horário de funcionamento: 12h/15h e 18h/23h (sáb., 12h/1h; dom., 12h/18h). Não tem serviço de valet. 

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