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Restaurantes e Bares

Um Più para cada bairro - ou a boa comida italiana feita com regularidade

Casa de Pinheiros vive lotada em plena segunda-feira e lá dentro entende-se o fenômeno: comida boa, sem muita invencionice, em ambiente caloroso e a preços adequados

Aberto há exatamente um anono Baixo Pinheiros, o Più, tem recorrentes filas de espera independente do dia da semana. Foto: Felipe Rau/Estadão Foto: Felipe Rau/Estadão

Como me disse um garçom, eles acertaram na veia. Referia-se aos seus patrões, donos do restaurante Più, que completa agora um ano de vida. “Olha só, já trabalhei em muita casa boa, nos Jardins, por aí. Mas nunca vi um lugar encher tanto, todo dia, desde o início, como aqui”, prosseguiu o atendente num alongado papo pós-refeição.

Aberto há exatamente um anono Baixo Pinheiros, o Più, tem recorrentes filas de espera independente do dia da semana. Foto: Felipe Rau/Estadão

De fato, o Più é um pequeno fenômeno. Numa segunda à noite, tentei ir lá sem reserva. Segunda à noite, pô, passava das 21h, no rádio a caminho me garantiam que o setor-de-alimentação-fora-do-lar sentia os efeitos da crise. Que nada: uma hora de espera; bati em retirada.

Ou se chega às 19h (a casa abre às 19h30) ou se reserva (com antecedência, porque os 50% da casa que eles dedicam a isso acabam rápido) ou se espera um bom tempo para comer num dos 48 lugares do pequeno Più. O problema é que a espera é muito mal organizada, o pessoal se apinha na calçada estreita e alquebrada, barra a passagem dos pedestres. Aplicativos de celular que organizam a fila cairiam muito bem aqui.

Mas avancemos ao ponto: a comida lá é bastante boa. Quando o garçom diz que “acertaram na veia” acho que é porque o Più consegue fazer pratos gostosos, que trazem o conforto saboroso da Itália, com ingredientes de boa procedência e umas pitadas de invenção – sem invencionice demais –, num ambiente caloroso, a preços adequados. 

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Lulinhacaccio e peppe. A combinação de queijo pecorino e pimenta-do-reino com a lulafunciona. Foto: Felipe Rau/Estadão

Dito de outra forma: não espere uma refeição memorável no Più. Espere algo que, por tão raro, virou luxo na cidade: regularidade. Você vai ao Più para comer uma tradicional burrata, produto de qualidade, simples e bom, envolta em fumaça (pequena amostra do esperto toque de invenção). Você pode também pedir o clássico carpaccio, mas que aqui vem num divertido e saboroso cone crocante, petisco de primeira. Ainda nas entradas, você pode tentar a clássica polenta, que vem no ponto certo, ou se aventurar na salada caprese desconstruída, com pós, cristais e defumados – molecularoide e, ainda assim, com gosto de comida.

Entre os principais, você tem à vista um tentador carbonara, que na boca é menos do que poderia ser – espaguete menos al dente, molho menos cremoso e pegado à massa do que deveria –, mas que não chega a ser ruim. Melhor ir nas massas recheadas, como o torteloni com vitela e os triangoli com burrata, ou ainda pedir o bem-feito nhoque de mandioquinha. Valem também as carnes, paleta de cordeiro e stinco.

O chef Marcelo Laskanetem experiência em casas paulistanas de alta rotação,trabalhou no Italy e no Kaá, antes de abir o italiano ao lado do maître Mauricio Cavalcante. Foto: Tiago Queiroz/Estadão

O tiramisù, entre os doces, vem com espuma, em louça diferentona – e é ótimo. As maçãs com mel de uruçu encerram também com graça a refeição. O serviço é correto, ágil, informado. Ah, e no almoço o cardápio é só executivo, com duas opções de entrada, oito de principal e duas de sobremesa, a R$ 44, um bom negócio.

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Em resumo: bom seria ter um Più por bairro, para diluir a espera e termos um restaurante italiano regular sempre à mão.

CONTEXTO

Os donos do negócio, o chef Marcelo Laskani e o gerente e maître Mauricio Cavalcante, sabem do riscado, têm experiência em casas paulistanas de alta rotação: Marcelo trabalhou no Italy e no Kaá, Mauricio, n’A Bela Sintra e no Trindade. Abriram juntos o Più há exatamente um ano, no Baixo Pinheiros, aprimorando com competência o que aprenderam nesses outros restaurantes.

O MELHOR E O PIOR

PROVE

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A lulinha cacio e pepe. Soa estranho, mas não é que combina o bicho com queijo e pimenta?

O pici. A massa caseira roliça casa bem com o molho encorpado de carne de pato e escarola (o cardápio grafa “picci”)

O stinco de leitão; um elogio ao porco, a carne é cozida lentamente; sela beiço, mas não enjoa.

EVITE

A carne cruda. Não funciona tão bem o filé picado com uma espécie de papinha de alcachofra.

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Ir com pressa. A não ser que você faça reserva (só vale à noite). Espera chega a 1h30.

Entre os principais, vale experimentar além das massaso ótimostinco de leitão. Foto: Felipe Rau/Estadão

Estilo de cozinha: italiano contemporâneo, receitas autorais.

Bom para: almoço executivo, na semana, ou jantar casual com amigos (e tempo sobrando). 

Acústica: há espuma embaixo das mesas, mas balbúrdia não cala. O salão invariavelmente lota e é bem barulhento.

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Vinho: boa oferta de tintos, de R$ 76 a R$ 398. Dez brancos e rosés abaixo de R$ 100. Dá para ser feliz. Taxa de rolha: R$ 40.

Cerveja: seis rótulos perfazem a carta, Original, Colorado, Leffe, duas Vedett e Moretti – só long neck, entre R$ 12 e R$ 22. 

Água e café: nada de água filtrada da casa, infelizmente! Segue o movimento pela popularização da cortesia. Garrafinha plástica a R$ 6,50. O expresso, bem regulado, é da Illy (R$ 6).

Preços: petiscos e entradas (R$ 12 a R$ 43), pratos (R$ 52 a R$ 68); sobremesas (R$ 16 a R$ 20); executivo é R$ 44.

Vou voltar? Tentarei, sim. A comida é boa. Mas a espera é muita.

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SERVIÇO

PIÙ R. Ferreira de Araújo, 314, Pinheiros Tel.: 3360-7718 Horário de funcionamento: 12h/15h e 19h30/23h30 (sáb., 12h30/16h e 19h30/23h30; dom., 12h30/16h; seg., 12h/15h e 19h30/22h) Valet: R$ 20 Tem paraciclo na porta

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