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Vão proibir ovo, frango e porco?

por Tânia RabelloJornalista da Agência Estado

Vão proibir ovo, frango e porco?Foto:

Se a campanha contra o foie gras – produzido predominantemente na Europa – começar a se voltar para as criações comerciais brasileiras vai encontrar muitos motivos para novas mobilizações via redes sociais. Embora algumas instituições pelo mundo pesquisem formas de garantir o bem-estar de animais de produção, como frangos, suínos, bovinos e galinhas poedeiras, aos olhos de consumidores leigos no assunto “tortura” pode ser a palavra mais suave para designar alguns sistemas de criação.

O que é considerado normal para um pecuarista pode ser um horror para aquele consumidor que se nega a ingerir qualquer produto advindo de um animal que tenha sido criado sob as normas da pecuária industrial.

Na avicultura industrial, por exemplo, os frangos de corte são acondicionados em enormes galpões, com centenas de aves, à densidade média de 18 a 22 aves por metro quadrado. E – o que contribui para esquentar o debate –, embora os galpões no Brasil garantam conforto térmico, com ventilação e luz natural nas laterais, além de aspersores de água ou aquecedores para o inverno, as aves não saem ao ar livre para ciscar, como é normal em criações caipiras ou mais naturais, como a agroecológica. Ou seja, não podem expressar seu comportamento natural.

Então, ao longo de 45 dias – tempo máximo de vida da ave até ela chegar ao peso de abate – o que frangos de corte fazem é comer, beber, dormir e, lógico, engordar rapidamente, confinados nos galpões.

FOTO: Filipe Araújo/Estadão

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No item “comer”, há outra questão. Na alimentação diária, composta principalmente de milho, são adicionadas pequenas doses de antibióticos “promotores de crescimento”. Estes medicamentos fazem com que a ave absorva mais alimento e engorde num tempo mais curto. Esta questão é polêmica e já fez grandes companhias alimentícias nos Estados Unidos, como Mc Donald’s e Tyson Foods, a vetarem a compra de carne de aves que tenham sido criadas com antibióticos, pois suspeita-se que esses medicamentos ministrados às criações sejam parte do problema do surgimento das superbactérias.

No caso das galinhas poedeiras, embora também haja estudos que busquem melhorar o bem-estar, parece que eles têm uma limitação básica em função do próprio modelo de criação e também pelo fato de se tornarem, pelo menos até agora, antieconômicos na avicultura industrial.

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Em granjas comerciais, pode-se dizer que galinhas são como “fábricas” de produzir ovos. Também ficam confinadas, só que em gaiolas metálicas (sem acesso a piso natural) e são “debicadas” – ou seja, têm a parte superior do bico parcialmente amputada – dias após o nascimento e novamente entre 10 e 12 semanas de vida para evitar que, quando adultas, pratiquem o canibalismo, quebrem os preciosos ovos e não escolham os grãos que querem comer com a ponta do bico, ingerindo assim toda a ração.

Em cada gaiola de 50 centímetros de largura por 45 centímetros de profundidade são acondicionadas 7 galinhas poedeiras. Sem poleiro. Sem ninho. Sem chão. Os ovos botados saem diretamente da galinha para uma canaleta, que transporta toda a produção para salas de limpeza e embalagem. Ou seja, também sem chocar.

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E os suínos? Esqueça aquela cena típica rural de porcos fuçando lixo, soltos e comendo lavagem. Ao contrário. Nas granjas comerciais, matrizes (as porcas reprodutoras) ficam confinadas durante praticamente toda a vida em pequenas baias de concreto, sem piso de terra. Literalmente sem poder andar. Quase sem poder se levantar, por causa da limitação de espaço. Na criação convencional elas são inseminadas artificialmente, gestam, parem os leitõezinhos e são transferidas a outra baia diminuta, onde podem amamentar os filhotes. Poucos dias depois são inseminadas novamente. Os leitõezinhos, aliás, logo no primeiro dia têm as presas arrancadas para evitar que machuquem a porca ao mamar ou se machuquem entre si – pois vão ficar confinados em baias de engorda até chegarem ao peso de abate. Há criatórios também que optam por cortar parte do rabo do leitão para evitar canibalismo, mas esta prática não é uma unanimidade, embora até hoje seja feita.

Os bovinos podem ser considerados mais “privilegiados” na pecuária brasileira, que é feita basicamente a pasto – embora parte pequena do rebanho seja confinada, não paste e tenha de se adaptar a uma dieta à base de milho e soja. Lembrem-se: bovinos são seres herbívoros. A questão de todo este questionamento, porém, é que é fácil pedir que se proíba a venda de foie gras em São Paulo. Seria possível, porém, proibir a venda de ovos, carne de frango, boi e de porco criados nessas condições?

>>Veja a íntegra da edição do Paladar de 8/7/2015

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